O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, nega a existência de uma crise interna na formação partidária que dirige, por sinal a terceira maior do país.
As recentes saídas de quadros importantes do partido, bem como o êxodo em massa de membros da cidades de Maputo, Beira e Nampula, tendo muito destes ido para a Renamo, o que se acresce às constantes acusações de nepotismo por parte de Simango, são factores descritos como o retrato de um partido que descarrilou da sua missão, encontrando-se quase moribunda.
Em grande entrevista à STV, Simango, que dirige o MDM desde a sua fundação em 2009, refere que as saídas de membros são atitudes normais em sociedades democráticas, aventando ainda a possibilidade das mesmas ocorrerem pela frustração de ambições individuais.
“( …) creio eu que qualquer membro ou qualquer concidadão que queira juntar-se a um partido político o faz de forma voluntária e, desta forma voluntária, tem a consciência clara de que encontra uma ideologia, princípios, uma organização. No entanto, alguns pensam eventualmente que estão a liar-se ao MDM com o objectivo de atingir interesses próprios, mas nós que formamos o MDM temos objectivos claros, colectivos, para chegarmos ao poder. Agora, se alguém entra para protagonismo individual, para interesses pessoais, naturalmente não vai encontrar essas expectativas, ca frustrado e encontra o caminho de ir a outros voos.
(…) eu penso que é um erro dizer que as pessoas que sustentam o MDM vêm da Renamo. A Frelimo foi criada no âmbito da luta de libertação nacional, a Renamo surge exactamente depois desse processo da criação da Frelimo. Muitos que criaram a Renamo eram membros da Frelimo, fizeram parte da Frente de Libertação de Moçambique e, naturalmente, depois da criação da Renamo foram surgindo outros partidos políticos e o MDM surge em 2009, é aglutinador de pessoas que vêm da Frelimo, da Renamo e de outros vários partidos que existiram antes do MDM, portanto, é normal que as pessoas que queiram sair do MDM possam ir para a Renamo, para a Frelimo, assim como os da Frelimo ou Renamo possam hoje vir para o MDM.”, disse Simango.
Sobre o caso da saída surpreendente de Venâncio Mondlane, a quem se esperou que voltasse a encabeçar a corrida pela autarquia de Maputo, Simango desvaloriza, destacando que o mesmo teve a oportunidade de ascender à posições políticas de destaque pela mão do movimento ao qual virou as costas. O líder, revela ainda uma alegada postura egoísta e anti-partidária de Mondlane.
“(…) O Venâncio, quando sai, não era secretário-geral do partido, portanto, não pode ser uma gura notória de visibilidade dentro do MDM e não pode ser uma pessoa de definição de políticas dentro do MDM. É verdade que apareceu no MDM em 2013 (…) teve a oportunidade de ser indicado para ser candidato, (…). Teve a oportunidade de ser indicado para concorrer à Assembleia da República, acabou sendo eleito deputado da Assembleia da República, foi designado relator da bancada e nesse processo de designação a relator de bancada para ele havia democracia, porque foi um benefício de interesse pessoal.
Foi designado para ser membro da comissão política, não participava nas actividades da Comissão Política, não cumpria, e pode imaginar que durante a preparação do congresso havia sido designado para ser porta-voz do congresso, chegou no dia, na hora da cerimónia de abertura do congresso, dizia que não podia ser porta-voz do congresso, tanto mais que só veio ao congresso porque a igreja adiou o programa que tinha, senão, teria cado na igreja. Nos horários, nos programas e nas agendas da Comissão Política nunca aparecia, sem justificar, portanto, significa que ele não estava preparado para assumir esse cargo para qual foi designado.
Antes disso, ele havia sido o candidato do MDM em 2013, não havia nada de mal voltar a ser o candidato agora em 2018 e, como se não bastasse, mesmo antes do congresso, já proclamava publicamente, pessoalmente, antes dos órgãos do partido iniciarem o processo, que era candidato do MDM. Em pleno congresso, declarou pessoalmente que era candidato do MDM. Portanto, do jeito que declarou que era candidato do MDM, voltou a ser ele mesmo a negar, tanto mais que a deliberação que o nosso delegado político leu foi uma deliberação feita quando ele aceitou e proclamou-se candidato. Portanto, eu penso que ele tem outros voos, o que eu lhe desejo é que tenha boa sorte, tudo lhe corra da melhor forma, portanto, é assim como a vida funciona, as pessoas entram, as pessoas saem, é preciso compreender que nós, como MDM, estamos bem de saúde em Maputo”, revela.
Outro membro de peso que deixou recentemente o partido é António Frangoulis, que também alegou anti-democracia no partido do galo. Sobre este, Simango foi suscinto, revelando que o antigo membro da Frelimo queria usar da aproximação consigo, como líder, para progredir individualmente passando por cima dos estatutos do partido.
“Olha, eu conheci o António Frangoulis, veio ter comigo, queria ser membro do MDM. Eu disse quer ser do MDM, está aí o estatuto, trabalha para o MDM. Mas é preciso compreender que pelo facto de falar com o presidente do partido não se pode impor interesses privados ao presidente do partido, muito menos se deve obrigar o presidente a violar os princípios e valores do MDM”.
Daviz Simango fez ainda uso de uma metáfora para dizer que a turbulência e as saídas que se verfiicam no partido, nas vésperas de eleições autárquicas, são mais benéficas que nocivas.
“(…) uma dona de casa que é muito bonita, lá fora recebe elogios do tipo tu és muito bonita, és gira, mas tem marido. Porque o marido não tem as qualidades que ela quer ou que supostamente lhe impõem, vai para outro lado, vai encontrar outro casamento e… desilusão total. Portanto, numa família, se tu entras dentro de uma casa, há uma cobra venenosa dentro da casa, ninguém vai dormir, e se essa cobra sai, naturalmente, essas pessoas vão ter paz. A vida é assim”, tranqulizou.
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