Tragédia na Ilha de Moçambique: O que terá levado o Presidente Nyusi a ficar por mais de 24 horas no silêncio?

É uma pergunta que por várias horas foi matutando pelas cabeças de vários moçambicanos até às 18 horas de ontem, uma vez que estamos diante de uma das maiores tragédias marítimas já verificadas no território nacional. E o timoneiro do País, o marinheiro-mor da nação não tossia e nem falava por cerca de 24 horas.

Os outros políticos como o antigo Presidente Armando Emílio Guebuza, Manuel de Araújo, Ossufo Momade, Lutero Simango, Graça Machel e até o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa emitiram seus posicionamentos face a tragédia de Quissanga e propuseram caminhos que devem ser seguidos, mas o PR Filipe Jacinto Nyusi estava no silêncio como se nada tivesse acontecido.

O silêncio do Presidente Nyusi foi motivo de vários comentários negativos sobre a tragédia, havendo quem até o chamou de “Insensível”, alguns entendem que perante tal situação ficou evidente que os governantes de Moçambique nunca se preocupam com as tragédias que acontecem em certas regiões do País, levantando aqui perspectivas tribalistas e regionalistas.

O facto é que o Governo do Presidente Nyusi tem sempre se comportado desta forma. É só lembrarmos da passagem do ciclone Idai em Sofala. Do início dos ataques terroristas em Cabo Delgado. Da gestão das famigeradas dívidas ocultas. Das inundações em Boane e tantas outras situações preocupantes que ocorrem neste País.

A questão do atraso de intervenção nas horas certas marcou e continua a marcar este governo até parece que sofrem da Síndrome dos Indivíduos Sempre Atrasados (SISA), não é normal. Não estamos a dizer que se fizessem as comunicações imediatamente iria inverter o facto já ocorrido, mas sim, demonstraria maturidade governativa e empatia para com o povo. Razão pela qual, espera-se que o próximo executivo tenha uma rapidez comunicativa no estilo Cheetah e não está que até um camaleão ou cagado vence na corrida.

Precisamos de um executivo que nos comunique bem. Um executivo que combate a desinformação rigorosamente. Alguns paquidermes dirão que o administrador falou, que o Secretário de Estado também falou, mas a verdade é que a voz desses não é tão audível como do Presidente da República. Talvez seja esta falta de comunicação que fez com que 130 pessoas entrassem numa embarcação artesanal fugindo de tudo e todos por causa de mortes estranhas que acreditavam tratar-se de cólera.

Precisamos de colocar a comunicação a funcionar devidamente para combatermos boatos, porque o governante que não comunica com o seu povo, então este não sabe qual é a sua missão e consequentemente acaba arrastando o País para a desgraça.

“No dia 07 de abril por volta das 13 horas – 14 horas morreram mais de 100 pessoas em Quissanga, Ilha de Moçambique, na província de Nampula, numa embarcação que partiu do Posto administrativo de Lungo, no distrito de Mossuril com destino a Nacala. Diante desta situação, o meu governo irá se reunir em Conselho de Ministros extraordinário e alargado para os governantes de Nampula, e parceiros com vista a garantirmos apoio às famílias enlutadas, os sobreviventes e intensificaremos as buscas no alto-mar e meios aéreos com vista a ver se ainda há mais sobreviventes ou não. Assim como estudaremos a questão do luto nacional” – uma mensagem de gênero demonstraria a dimensão da preocupação do Presidente que também poderia se deslocar para lá e não enviar pessoas. Poderia agir como na vez das inaugurações de torneiras, residências protocolares de administradores e lançamentos de pedras para estradas que nunca terminam as obras.

Infelizmente, não foi o que se fez, talvez esteja preocupado com o dossiê da sucessão no poder, mas isto é outro assunto, o Presidente Nyusi ainda é Presidente de Moçambique e tem mais de nove meses para responder às preocupações dos mais de 27 milhões de moçambicanos que não são membros da Frelimo, uma vez que disse em “bom tom há dias na 3ª Sessão do Comité Central, realizada na Matola, na província de Maputo que a Frelimo tem actualmente mais de 6 milhões de membros”. Esperamos que durante este período que falta possa nos dirigir e quiçá corrigir certos problemas que ao longo destes nove anos e quatro meses não conseguiu.

Acreditamos que hoje no Conselho de Ministros decrete o luto nacional de mais de um mês, uma vez que o número de mortos da tragédia ultrapassa os números das vítimas do acidente de Maluana, no distrito da Manhiça que na ocasião teve uma ampla mediatização e comissões de inquérito que infelizmente o relatório não foi de consumo público, esperamos que neste caso de Nampula a culpa não morra sozinha!

São situações desta natureza que projectos como da Zona de Protecção Costeira ajudariam bastante o País, deixando de lado “tabela do mal” que serviu para distrair-nos e perdemo-nos na mesquinhez que fomos obrigados acreditar durante estes anos todos! (Omardine Omar)

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