Tragédia: Mais de 59 crianças morreram no naufrágio da Ilha de Moçambique

Uma embarcação artesanal licenciada simplesmente para pesca e que no último domingo (07.04) naufragou na região de Quissanga, no Posto Administrativo de Lumbo, no distrito da Ilha de Moçambique, na província de Nampula, quando à pedido dos residentes de Lungo, no distrito de Mossuril pretendiam chegar à Nacala-Porto fugindo das consequências terríveis da cólera.

Segundo contou o capitão da embarcação à Imprensa, as pessoas fugiam da cólera e no trágico dia, a embarcação transportava 130 pessoas, sendo que deste grupo mais de 59 eram crianças que perderam a vida durante o naufrágio.

De acordo com testemunhas locais, até que algumas pessoas conseguiram chegar nas bermas do mar, uma vez que o naufrágio aconteceu a menos de 100 metros da margem da praia de Quissanga, mas como se trata de uma região sem habitantes, as pessoas não tiveram pronto socorro, tendo perdido a vida devido ao excesso de água salgada no organismo.

As autoridades marítimas continuam com as buscas dos restantes 14 ocupantes da embarcação que até aqui encontram-se desaparecidos. Entre os 130 ocupantes, 98 corpos já foram reclamados, entre eles 59 crianças, 39 homens e mulheres, 18 sobreviventes que se encontram internados e 14 desaparecidos.

O naufrágio de Quissanga é um dos maiores já ocorridos em Moçambique facto que grandes cadeias de comunicação social ao nível global dentre elas BBC, Al Jazeera, CNN e mais vem reportando sobre os contornos da tragédia que mais uma vez colocou o País em luto.

As reacções sobre a tragédia são várias. Havendo alguns que pedem uma investigação exaustiva sobre a questão da negligência das autoridades locais e centrais nas áreas de transporte e comunicação, águas interiores e mar, saúde e da própria liderança máxima de Moçambique que desde domingo até às 18 horas de segunda-feira (08.04) encontrava-se num silêncio preocupante.

Espera-se que na sessão do Conselho de Ministros (CM) que se realiza nesta terça-feira (09.04) o Governo decrete luto nacional face a tragédia e que uma equipe multissectorial seja criada para investigar a origem da desinformação, a situação da cólera em Lunga e outros contornos do naufrágio.

Ainda ontem (08.04) através da sua página oficial do Twitter, o Presidente da República, Filipe Nyusi escreveu o seguinte: “recebi com profunda tristeza a notícia do naufrágio de uma embarcação que saía do Posto Administrativo de Lungo, no distrito de Mossuril, com destino a Nacala, que provocou a morte de mais de cem cidadãos. Face a esta informação, nas primeiras de hoje [segunda-feira], enviei uma delegação governamental, liderada pelo Ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, para a prestação de ajuda aos sobreviventes, e seu encaminhamento, assim como para a investigação deste caso.”

Entretanto, as críticas ao Presidente Nyusi aumentaram desde ontem, uma vez que se esperava uma outra postura enquanto chefe do Estado. O sociólogo Elísio Macamo, em entrevista concedida ao Jornal O País questionou o que terá levado o Presidente e a sua equipe do Governo a ficarem no silêncio por mais de 24 horas desde a ocorrência da tragédia. Outros internautas apelidaram o Presidente Nyusi, de ser insensível face à situação do povo e a quem questiona o porquê de o texto de pesar ser publicado no Twitter e não no Facebook, tomando em conta que o povo moçambicano usa mais a segunda rede e não a primeira.

O facto é que a tragédia de Quissanga é mais uma evidência clara do desgoverno que os moçambicanos estão entregues nos últimos 10 anos e uma prova inequívoca que as campanhas contra a desinformação sobre a origem da cólera só é feita quando uma situação trágica acontece e o Ministério da Saúde (MISAU) dirigido por Armindo Tiago e seus representantes nas províncias e distritos não estão a fazer uma comunicação preventiva sobre estás práticas, onde antes desta tragedia em vários pontos do País, líderes comunitários e até agentes da Lei e Ordem foram agredidos e outros mortos devido a desinformação sobre a cólera.

Um outro problema que se levanta é devido a falta de pessoal e meios na área de fiscalização marítima na República de Moçambique e os poucos recursos e pessoal que existe em situações de género acabam abraçando a corrupção através do recebimento de quantias insignificantes para que embarcações de género façam coisas pelas quais não foram licenciadas para tal. É um problema estrutural que infelizmente ceifou a vida de mais de 100 pessoas, entre elas mais de 59 crianças que um dia serviriam em diferentes sectores deste belo País.

No entanto, quem pagará pela tragédia: “o santo do marinheiro da embarcação que apenas viu como mais uma oportunidade para encaixar algum? A Directora de fiscalização marítima de Nampula que na altura os seus  homens no terreno não impediram que a embarcação seguisse com a viagem? Ou o Governante ao nível central e provincial que nunca investiu no sector da fiscalização marítima em todo território nacional? Quem pagará pelas vidas que se foram? Ou o caso morrerá como tantos outros que já assistimos e vivenciamos nesta bela pátria – Moçambique: Quem te viu e quem te vê! (Omardine Omar)  

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