OPEP e Agência Internacional de Energia em guerra de números sobre futuro do petróleo

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São os dois maiores organismos mundiais de análise do mercado petrolífero. Mas as suas posições antagonistas perante a transição energética (uma representa os países desenvolvidos que apostam nas renováveis, a outra representa países em desenvolvimento que estão dependentes das receitas do petróleo) levam-nos a terem previsões muito díspares sobre a evolução do consumo do ‘ouro negro’ nas próximas décadas.

São duas das autoridades mundiais mais respeitadas nas suas previsões sobre o mercado de petróleo. Mas os seus outlooks são cada vez mais díspares e refletem diferentes visões do mundo nas próximas décadas.

A Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) andam numa guerra de números sobre o futuro do petróleo.

Pior. Estão a enviar diferentes sinais aos mercados sobre o curto, médio e longo prazo do sector petrolífero. Nos últimos 16 anos, nunca os seus dados estiveram em polos tão opostos como agora, segundo contas da “Reuters”.

A IEA prevê que o consumo mundial vai subir em 1,3 milhões de barris diários em 2024, com a OPEP a esperar um aumento de 2,25 milhões de barris, com a diferença entre previsões a corresponder a 1% do consumo mundial.

A IEA aponta que o recuo nas taxas de juro este ano são boas notícias para a economia global, mas que o abrandamento económico na China continua a ser um problema. O crescimento do consumo só terá lugar nos países fora da OCDE.

Entre os membros da OPEP encontram-se a Arábia Saudita, Irão, Iraque, Emirados Árabes Unidos, a Nigéria ou a Venezuela. Já a IEA conta com Portugal entre os seus membros, mas também os Estados Unidos, Japão, Espanha, Turquia, Canadá, Reino Unido, Itália, França ou Alemanha.

Mas no médio e longo prazo as previsões também não batem certo. A IEA espera que o consumo de petróleo atinja um pico em 2030 e depois comece a recuar. A OPEP, por seu turno, não vislumbra nenhum pico até 2045, o limite do seu outlook, esperando que o consumo continue a aumentar fora dos países da OCDE e com o recuo de algumas políticas de descarbonização.

“Nenhuma das duas é isenta. A OPEP representa o interesse de países produtores, a IEA está envolvida na transição energética, e foi criada em 1974 como resposta à crise de petróleo para criar reservas suficientes para fazer frente a uma nova crise petrolífera”, disse ao JE Mário Martins, administrador da ActivTrades Brasil.

“A IEA está mais vocacionada para a transição energética: não é exatamente uma identidade idónea, já publicou dados de consumo errados…”, tendo sido obrigada a corrigir posteriormente. “É normal que as previsões de consumo da IEA sejam inferiores porque estão muito envolvidos na transição energética, todos os seus membros são subscritores do tratado de Paris e estão comprometidos com carbono zero até 2050”.

“Existe uma falta de isenção clara por parte de ambas as partes. Se forem tomadas decisões de investimento, sem saber que interesses subjacentes das duas partes, pode dar asneira”, alerta o analista, considerando que a maior problemática deste tema são as decisões de investimento com base em dados “de partes que não são completamente isentas”, acrescentou.

“Faz parte da política da Agência dar números de consumo cada vez menores senão chegam a 2050 sem net zero. Já a OPEP quer mais consumo porque vão vender mais… são sempre otimistas. E se não forem, vão ter que refletir nos livros internos e vão ter que pedir dinheiro emprestado”,  afirma Mário Martins.

O consenso de 26 analistas aponta para um aumento de 1,3 milhões de barris diários este ano, segundo a “Reuters”, mais próximo da previsão da IEA. Questionados se o pico de consumo vai ter lugar em 2030, 20 dos analistas consideram que não, sendo mais favoráveis à visão da OPEP.

“A IEA tem uma percepção muito forte de que a transição energética vai ter lugar a um ritmo mais acelerado. Mas penso que é prematuro pensar que para um pico da procura em 2030 devido ao crescimento nos países em desenvolvimento”, disse à “Reuters” Neil Atkinson, antigo responsável da IEA, considerando que ambos os organismos posicionaram-se em campos diferentes, daí a “enorme diferença nas previsões da procura”.

O maior produtor da OPEP já criticou publicamente as previsões da IEA. “Eles deixaram de ser analistas do mercado para passarem a praticar política”, disse o ministro saudita da Energia em setembro, príncipe Abdulaziz bin Salman.

Entretanto, a IEA divulgou um comentário recentemente onde reconhece que a segurança do abastecimento de petróleo é crítica para os países em todo o mundo.

“A segurança do abastecimento de petróleo continua a ser uma preocupação para governos em todo o mundo”, segundo os comentários dos analistas da IEA Ronan Graham e Ilias Atigui.

“Um foco na segurança de petróleo é uma consequência da necessidade contínua de petróleo para abastecer automóveis, camiões, navios e aviões, assim como para produzir petroquímicos necessários para produzir inúmeros itens diários”, acrescentam.

“Apesar de a dependência do mundo estar a recuar, permanece enraizada, e as disrupções ao abastecimento iriam causar danos económicos significativos e terem um impacto negativo substancial na vida das pessoas”, segundo a organização sediada em Paris, apontando que o consumo mundial atingiu um máximo em 2023, mas que irá enfraquecer em muitas partes do mundo nos próximos anos, com a mudança para energias mais limpas, o aumento das vendas de carros elétricos, e a melhoria da eficiência energética. “Consequentemente, um pico na procura mundial de petróleo está no horizonte antes do fim desta década, com base nas atuais políticas”.

A IEA deitou, aparentemente, água na fervura sobre este tema, com o seu reconhecimento a ser elogiado pela OPEP. “Estamos encorajados por esta referência e a importância contínua do petróleo para o mundo”, segundo a organização sediada em Viena, Áustria. 

Author: Redacção

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