Mas quem nunca estacionou ali e fazer aquilo?

Se há um crime cujo toda a gente já cometeu é, de certeza, estacionar no lugar que se acredita mais escuro da vida, arear o assento ou que malabarismo a viatura permitir e…, pimba!, fazer aquilo

Se há um crime cujo toda a gente já cometeu é, de certeza, estacionar no lugar que se acredita mais escuro da vida, arear o assento ou que malabarismo a viatura permitir e…, pimba!, fazer aquilo. Os que não têm carro, mas imbuídos de atrevimento, arriscam-se por aí. E há de cada lugar inusitado e momento inadequado que dava filmes com etiqueta a Óscares anualmente.

Trata-se de um crime sem rosto, pois a máscara do “toma aqui, chefe” afasta muita gente do ecrã da vergonha. E se não houvesse pacto? Meus Deus!, seria o trabalho mais aturado que o juiz teria diariamente e o Estado facturaria em multas até dobrar os milhões das dívidas “sujas” e mandar pastar os investidores internacionais. Sim, o cofre do nosso tesouro público estaria tão gordo, mas tão gordo, que cada jogador dos Mambas teria uma frota de carros e, por conseguinte, perder jogos já não seria manchete aqui.

Portanto, o vídeo que vazou há dias, de um casal que se arrisca ter feito aquilo, não é novidade para ninguém. Aquela é, para nós, uma não-notícia, um não-assunto por excelência. Nós não teríamos nos dado o desprazer de gastar nossos difíceis megas, o nosso generoso tempo e sacrificar espaço dos nossos telemóveis com aquele videozinho de quinta. E quem se encarregou de partilhar… apenas tenho pena da falta de ocupação desse sujeito e não há predicados mais infames para o atribuir, nem mais complementos neste período. Que é que pensa que fez de jeito? Não só por ter cometido um outro crime, o de invasão de privacidade ou de ofensa moral, não só, mas por nos ter ajudado a perder minutos que se presumiam mais úteis.

Eu, infelizmente, e também pelo trabalho que exerço, fui lá fazer o clique naquela fífia. Pensava que pudesse conter algo de interesse e no dia que me decidisse ver, talvez, teria sido demasiadamente tarde. Mas foi de um arrependimento que suponho não passar pela vossa imaginação. É que, meus leitores, fazer aquilo no carro não é lá matéria propriamente para baguncear a nossa polícia, muito menos nós os outros. A polícia, coitada, tem mais que fazer do que caçar casais nos carros e disso orquestrar um espectáculo barato. Os empresários, lá na Beira, encerraram o comércio por falta de respostas sobre os raptos no fim-de-semana. Boa agenda: que apanhem o primeiro autocarro e, com os seus telemóveis top de gama, filmem os raptores que roubam o sono de muitas famílias. E há mais coisas por filmar. Nem preciso dizer o quão seriam úteis nas operações tenebrosas de Cabo Delgado, isso se o Nhongo lhes permitir atravessar o Save.

Bom, para filmar e fazer videoclipes, telenovela, seriados e muitos bons filmes os nossos polícias têm (pre)textos até de sobra. Agora, fazerem uma celebração porque duas pessoas decidiram testar os amortecedores é cá uma insensatez, pois eles mesmos o fazem e, se calhar, em situações de abuso de fardamento.

Contam-se pelos dedos de uma única mão quem possui uma viatura e que não tenha lhe voado a vontade de rever à sua mecânica no silêncio do escuro. E tem razão, é que os nossos mecânicos são tão indisciplinados que não se pode ter a todos por confiados. Há sim aqueles que resistem à tentação e aceleram o máximo que podem para resolver o assunto num sítio menos criminoso possível, acredito, mas aterrorizarmos gente que pode pagar uma multinha, e contribuir para termos mais estradas e hospitais, só porque não foi a nós que nos encontraram de saias fora da cintura e calças desabotoadas é de uma gigantesca estupidez.

Eu face
Elcídio Bila

Fonte: Entreaspas

Author: Redacção

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