A eleição intercalar em Nampula, na quarta-feira, 24, destapou o tipo de povo que Moçambique tem. O que aconteceu em Nampula não diz respeito só aquela urbe. É característica de quase todo o moçambicano: povo que não sai à rua para reivindicar os seus direitos, povo que não vai à marcha, povo que não vota, enfim…povo dorminhoco.
Em Nampula nenhum dos candidatos conseguiu reunir a maioria absoluta, que é cinquenta por cento dos votos e mais um, conforme preconiza a lei. Tudo por culpa do próprio eleitorado nampulense que não foi votar. Ou seja, se há algum vencedor nesta intercalar, é a abstenção.
Quer dizer, o Governo decreta tolerância de ponto para todo dia para que todos consigam votar, e o povo, ao invés disso, fica nas barracas a beber cerveja, tentação, nipa e tais, para depois, andar nas redes sociais insultar o edil (se alguém tivesse vencido) dizendo que está a governar mal, não faz isto e aquilo, não merece estar naquele cargo….por que não foi votar para fazer a diferença? Por quê não foi escolher o seu candidato?
Meus senhores, votar é um dever cívico. Todos os que têm idade para votar devem exercer o seu dever, salvo algum impedimento. Votar não significa escolher este ou aquele candidato. Pode ser que o seu voto não dirija a ninguém, mas, contudo, exerceu o seu dever cívico. E isto mostra que tu és cidadão.
É com muita tristeza que digo isto: em Moçambique os cidadãos são poucos. A maioria é povo. Não conhece os seus direitos e deveres. Murmura por tudo e por nada, mas quando é chamado a fazer a diferença fica em casa a beber, a coçar os tomates. É o primeiro a reclamar, mas sempre ocupa o último lugar quando é para fazer a diferença.
E muitos são os que nas redes sociais vociferam insultos. Ora porque a Frelimo é isto ou aquilo, mas ninguém ousa fazer alguma coisa para remover essa mesma Frelimo do poder. O teu, o meu, o nosso voto faz a diferença.
Se querem arrancar o poder….votem!
Imaginemos que no meu quarteirão há eleições para se escolher o respectivo chefe. Eu, os da minha casa, e mais alguns vizinhos não votamos, porque não queremos. Volvido algum tempo, com o chefe do quarteirão já eleito, nós, os que não votamos, somos os primeiros a dizer que o chefe do quarteirão que temos é burro, não merece ocupar aquele cargo, etc. Porquê, então, não votamos quando fomos chamados a isso?
Vejo que em Moçambique a votação devia ser obrigatória. Chamboquear os que não forem. Talvez assim alguma coisa poderia mudar!
Não vale a pena entrar nessa de que eu não vou votar porque quem vai vencer a eleição é o suspeito de sempre que tudo faz para defraudar a eleição. Meus caros: imaginemos se todo o eleitorado de Nampula tivesse votado na senhora Mutoropa. Como é que a Frelimo iria manipular vontade tão esmagadora dos nampulenses?
Ou seja, se outrora Mahamudo Amurane era edil de Nampula, não pertencendo a Frelimo, não é porque venceu a vontade do eleitorado nampulense?
Total houve 296.590 eleitores
-73.853 votantes
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220.000 abstenção
Quer dizer 75% ficaram em casa
A beber cerveja ? nem quiseram saber da votação.
Dos 296.590 so foram votar 73.853
Vergonha!
Temos ai uma segunda chance. Amisse Cololo, candidato da Frelimo, e Paulo Vahanle, da Renamo, nenhum deles conseguiu a maioria absoluta para assumir o cargo de edil. Pelo que haverá uma segunda volta. Nampuleses, deixem de estar no relex, na barraca, a murmurar nas esquinas, vão votar. Vão exercer o vosso dever cívico. Sejam, pelo menos uma única vez na vida, cidadãos. Acordem. Ninguém vai fazer isto por vós.
Dorminhocos!
Texto de: Nini Satar