Acompanhada por Graça Machel, sua mãe, Josina Machel chegou ao tribunal judicial do distrito urbano número um às 09h00. Minutos depois chegava ao tribunal Rofino Licuco, acusado de ter agredido a ex-namorada, Josina Machel, em Outubro de 2015. Além da sua advogada, Anita Sumburane, o acusado fazia-se acompanhar por agentes de segurança privada.
O julgamento só iniciou cerca de uma hora depois da hora marcada, numa pequena sala que ficou totalmente preenchida. Aliás, muitas pessoas não puderam acompanhar a sessão devido à falta de espaço na sala. Antes do início da sessão, o tribunal ordenou que a imprensa abandonasse a sala antes do início da sessão.
Mas “O País” teve acesso à acusação particular, onde Josina Machel acusa o ex-namorado de a ter agredido com três socos, sendo que um deles atingiu o olho direito, causando uma ferida perfurante. A agressão teria ocorrido no interior da viatura do ex-namorado na madrugada de 17 de Outubro de 2015, após um desentendimento entre ambos. Após receber o primeiro tratamento no Hospital Central de Maputo, Josina Machel foi submetida a duas cirurgias, a primeira numa clínica privada em Maputo e a outra em Barcelona. Devido à cegueira que contraiu no olho direito, a acusação alega que a queixosa não consegue usar o computador, seu instrumento de trabalho, reduziu as horas de trabalho por dia, depende do motorista para se deslocar, não superou o trauma da agressão e ficou limitada nas suas acções de activismo social. Por isso, Josina Machel pede uma indeminização de 300 milhões de meticais, valor que pretende usar em campanhas contra violência doméstica, incluindo a criação de condições materiais para a reabilitação de mulheres vítimas.
Entretanto, Rofino Licuco nega que tenha agredido Josina Machel e diz que após uma discussão, a queixosa saiu bruscamente do carro e dirigiu-se para o seu. E porque tinha consumido bebidas alcoólicas, Josina Machel tropeçou e caiu, tendo contraído ferimento no olho direito, segundo a defesa do acusado. Sobre o consumo de bebidas alcoólicas, o relatório do HCM solicitado por Graça Machel indica que Josina Machel estava com agitação e hálito alcoólico quando deu entrada no serviço de urgência queixando-se de agressão física. O acusado diz ainda que a queixosa sempre teve problemas no olho direito e justifica que ela teve transplante há quase 20 anos. Rofino Licuco fala ainda de ameaças da família da Josina e diz que teve conhecimento através de mensagens de alerta enviadas pela ex-namorada. Sobre as alegações de danos causados pela cegueira no olho direito, o acusado contrapõe e afirma que Josina Machel sempre se serviu de motorista; que sempre esteve desempregada nos últimos anos em que foram namorados; que não conhece nenhum activismo social da ex-namorada e sempre socorreu-se da vista esquerda para usar o computador.
O acusado estranha o facto de Josina Machel ter submetido queixa às autoridades moçambicanas dias depois de receber tratamento.
Sobre os custos do tratamento hospitalar, Rofino Licuco disponibilizou-se a pagar 566.748,52 meticais e 13.170,81 euros. Mas Josina diz que já reembolsou todo o dinheiro ao acusado.
No fim da sessão, tanto Abdul Carimo, assistente da Josina Machel, como Anita Sumburane, advogada de Rofino Licuco, não quiseram prestar quaisquer declarações à imprensa.
Fonte: O País