Sem tempo para saudações calorosas. Até porque tal, ainda que consagrado pelo uso, discorda do espírito desta missiva, que para além de curta, se pretende o mais fria possível. Outrossim, não nos apraz tratar-vos de camaradas. A camaradagem, em nosso país, converteu-se na marca registada dos campeões da corrupção mascarados em libertadores.
Tampouco vos trataremos de compatriotas. Os vossos feitos dos últimos dias atropelam sobremaneira o sentimento de afecto que se deve nutrir por Moçambique. Não vos é digno, pois é evidente o vosso desamor pela “Pátria Amada”; e a vossa postura inglória contra a “nossa terra gloriosa”.
Estamos cientes de que o termo “comparsa” possui conotações criminosas e, talvez, suscite reacções diversas, das quais as boas sejam poucas. Soa desrespeitoso e é, de facto, politicamente incorrecto. Entretanto, é o único sapato que se ajusta ao pé daqueles a quem se destina. Pelo que, rogamos-vos, leiam com atenção, prezados, Ossufo Momade e Comparsas ou, então, Colegas da Ditadura.
[Agora, directo ao ponto]
Com o desaparecimento físico do memorável líder da RENAMO – Afonso Dhlakama – em maio de 2018, em Gorongosa, ficámos de luto nacional. Julgávamos estar a assistir à morte da Democracia moçambicana e, com ela, a cremação do sonho de ver Moçambique livre da falta de liberdades fundamentais: direito à informação, liberdade de pensamento e de expressão, e outras liberdades propulsoras da dignidade humana. Asfixiados, o único ventilador que nos restava era o Parlamento, nas vozes ousadas dos militantes deputados dos partidos da oposição, mormente da RENAMO. Modéstia à parte!
Os anos passaram-se, na sofrível lentidão, fazendo o que eles mais sabem fazer, que é seguir o curso do tempo. Mas eis que no último trimestre do ano 2023 e no primeiro trimestre de 2024, volvidos cinco anos após a morte do pai da Democracia moçambicana, veio a nossa força a restaurar-se com grande vigor. Nas eleições para presidências municipais, estreou uma forte geração de potenciais líderes políticos. RENAMO ganhou comprovadamente em 20 (vinte) autarquias, tendo-lhe sido reconhecida a vitória em apenas 4 (quatro). Em meio a esse confronto directo com o regime ditatorial e que se quer monopartidarizado, mostrou-se inegável a notoriedade de algumas figuras. Tais figuras, algumas de renome na praça política (como Dr. Manuel de Araújo, ex-edil Raúl Novinte e Engenheiro Venâncio Mondlane). A vitória da RENAMO foi transformada no que ficou conhecido como a mais épica fraude eleitoral de todos os tempos. A vontade do povo foi estuprada em plena luz do dia. Nada se fez, e assim tudo ficou. A despeito disso, a RENAMO ganhou em dose tripla: credibilidade pública; milhares de simpatizantes; e não poucos membros filiados, naturalmente. Isso foi uma espécie de reavivamento partidário, se considerarmos que já se contavam a dedo os Moçambicanos que ainda olhavam para a RENAMO como colectividade alternativa para a governação de Moçambique.
Entretanto, e em paralelo aos ventos de bonança, episódios de vergonha foram desfilando em série. Venâncio Mondlane – edil eleito para a Cidade de Maputo – empreendeu uma série de processos, todos eles vitoriosos, porque apadrinhados pelas leis vigentes em Moçambique e pelas normas estatutárias da própria RENAMO. Em contrapartida, nunca os veteranos desse partido ardiam, à uma, com indescritível ira. Choveram demissões contra Venâncio Mondlane. Vomitaram-se discursos vexantes; belicistas; difamatórios; caluniatórios; escarnecedores; mil e um mísseis contra um e único alvo: Venâncio Mondlane. Tentativas de se lhe calar foram muitas, muitas vezes, e de muitas maneiras. Ele continuou a lutar, firme e convicto, inabalável, como sempre foi. Na verdade, esse gênio da política Moçambicana, parece-nos, quanto mais atacado mais fortalecido; quanto mais ameaçado mais destemido; quanto mais difamado mais amado.
Esgotadas as manobras de se lhe opor é, por fim, içada a bandeira da nudez partidária da RENAMO. Levantaram-se os perdedores, não em rendição, mas em quase que demoníaca teimosia. Gritam-nos: Seja como for, Venâncio Mondlane não vai ao Congresso! Só que, não sabem eles, esta decisão já não é contra Venâncio Mondlane. É, antes e acima de tudo, contra todos os membros decisores da RENAMO; que declaram publicamente que o maior partido da oposição, converteu-se no maior covil de indivíduos para quem o bem-bom pessoal pesa mais que o bem-estar do povo. É contra todos os Moçambicanos, que ficam hoje sem saber quem são os verdadeiros inimigos da Democracia. É, também, contra as futuras gerações, que serão narradas que terá havido em Moçambique um partido que nasceu, cresceu, reproduziu e, do nada, começou a perseguir e a matar os seus próprios filhos.
Para terminar, é infantil e vergonhoso que os membros seniores da RENAMO cruzem os braços diante desta cambalhota indemocrática. A sua IP (Inteligência Política) está em exame nacional. Se não passarem nesse exame, será para vós um vexame, e podem crer que um enxame de repúdio público vos sobrevirá. Se mantiverem as coisas decididas unilateralmente pelo velho com corpo de elefante e cérebro de piolho, então a história testificará contra vocês, por terem sido cúmplices pela morte da Democracia moçambicana. A única forma de mostrar que são representantes do povo, é ouvir a voz que, de Rovuma a Maputo, Zumbo ao Índico, brada em uníssono: DEIXEM VENÂNCIO MONDLANE CONCORRER PARA PRESIDÊNCIA DA RENAMO!
Por: Angelino Macho