O sector privado queixou-se, durante o conselho de monitoria do ambiente de negócios com o Executivo, do “excesso” de taxas de pré-embarque, revelando que o facto gera corrupção. Em resposta, o Governo explicou que as taxas servem para garantir que apenas mercadorias de qualidade entrem em Moçambique.
Frente-a-frente, o sector privado, representado pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), e o Governo discutiram, na última quarta-feira, sobre o estágio actual do ambiente de negócios. Entre vários assuntos abordados, o excesso de taxas cobradas pelo Estado no pré-embarque de mercadorias foi o mais sonante.
“Se queremos que as empresas sejam competitivas, temos de eliminar todos estes handicaps, que são as taxas. Estas taxas pesam na economia das pequenas e médias empresas, e não só, e tornam-se menos competitivas. Quanto mais burocracias colocamos na economia ou no sistema, mais lojas de corrupção abrimos”, afirmou Salimo Abdula, empresário.
Em resposta, o primeiro-ministro, Adriano Maleiane, avançou que as taxas, que devem ter contrapartidas directas, estão a ser transformadas em impostos, por isso chama as partes envolvidas à reflexão.
“O problema aqui é que nós estamos a transformar as taxas em imposto, ou seja, qualquer taxa de prestação de serviço, que é cobrada Ad Valorem (taxa cobrada dentro da tabela de fretes que representa o custo do seguro da carga) no fim do dia, está a mais. O que deve ser feito é repensar-se uma saída, de forma que ninguém saia lesado nestes processos”, sustentou Adriano Maleiane, primeiro-ministro.
Por sua vez, o ministro da Indústria e Comércio explicou a razão de haver inúmeras taxas no pré-embarque, tendo destacado que o Programa de Avaliação da Conformidade (PAC) zela pela qualidade de mercadorias que circulam no mercado nacional.
“A avaliação de conformidade é para evitar que o país receba lixo e alimente a população com lixo. Temos exemplos práticos em vários portos, ao longo deste ano e no ano passado, onde houve registos de frangos totalmente estragados, e porque não temos capacidade de controlar, recebemos produtos estragados, pagamos e distribuímos para a população, e é isto que queremos evitar”, disse Silvino Moreno, ministro da Indústria e Comércio.
O sector privado, na voz do presidente da CTA, volta a queixar-se de atrasos no pagamento a fornecedores do Estado e no reembolso do Imposto sobre o Valor Acrescentado, IVA. Agostino Vuma afirmou que o facto tem um impacto significativo nas finanças e operações das empresas, afectando negativamente o seu crescimento e sustentabilidade a longo prazo.
“Queremos que se inclua no orçamento de 2024 uma rubrica específica sobre o pagamento de facturas atrasadas aos fornecedores, e adpoção de mecanismos que permitem redução do tempo do reembolso do IVA, que legalmente deve ser processado num período máximo de 30 dias”, rebateu Agostinho Vuma, presidente da CTA.
O vice-ministro da Economia e Finanças admite o atraso e diz que a prioridade, agora, é entender o problema e depois gerar solução, mas tendo em conta a necessidade de se garantir que as dívidas não alcancem níveis insustentáveis.
“Estamos a fazer um exercício, que está praticamente finalizado. Na apresentação feita pelas equipas, não encontramos evidência de que o reforço da quota para gestão da conta de reembolsos é solução para o problema. Temos de trabalhar para melhorar os procedimentos, mas devemos entender o problema, para que, na acção, não nos esqueçamos da necessidade de manter as dívidas em níveis sustentáveis”, explicou Amílcar Tivane, vice-ministro da Economia e Finanças.
No fim do encontro, que teve lugar na Cidade de Maputo, as partes concordaram em continuar a interagir no sentido de garantir um melhor ambiente de negócios no país.
A CTA e Governo deverão encontar-se, novamente, nos dias 16 e 17 de Maio do ano em curso, na XIX Conferência Anual do Sector Privado (CASP). O maior evento de diálogo público-privado irá discutir uma carteira de projectos estimada em 1,7 mil milhões de dólares, maioritariamente dos sectores da agro-indústria, turismo, infra-estruturas e energia, e com potencial de gerar mais de 200 mil postos de empregos em cinco anos. O valor representa um crescimento em 300 milhões de dólares em comparação aos 1,4 mil milhões do pacote de projectos discutido na CASP de 2023. (JP)