A responsável do departamento de doenças emergentes e zoonoses da Organização Mundial de Saúde, Maria Van Kerkhove, considera que o peso das pessoas sem sintomas na transmissão do vírus é muito baixo. “Parece ser muito raro uma pessoa assintomática transmitir o vírus” disse a investigadora que também é porta-voz da OMS.
Maria Van Kerkhove representa uma linha oposta a que tem sido seguida até agora e que justifica, por exemplo, o uso generalizado de máscaras de protecção.
As medidas de controle da pandemia, adoptadas em praticamente todo o mundo, incluindo em Moçambique, assentam na presunção de que as pessoas que testam positivo para o vírus, mas não apresentam qualquer sintoma, também são capazes de transmitir a doença.
A responsável da OMS refere um trabalho feito em Singapura, em que foram cuidadosamente seguidas as pessoas que testaram positivo e todos os seus contactos, em que se conclui que o contágio por pessoas que não têm febre, nem tosse, nem qualquer dos sinais associados ao vírus, é praticamente nulo.
Esclareceu ainda que já se percebeu que as pessoas jovens e saudáveis, quando infectadas por coronavírus, não desenvolvem sintomas ou apresentam apenas sintomas muito ligeiros. Noutros casos, os sintomas podem surgir apenas vários dias após o contágio.
Vários relatórios apresentados até agora, como um trabalho divulgado em abril pelo Centro de Controle de Doenças americano (CDC), apontavam a transmissão por indivíduos sem sintomas como o principal entrave ao combate à doença. Esta suposição justificou boa parte das medidas de contenção, como o isolamento social, o uso obrigatório de máscaras ou até o fecho das escolas – temia-se que os jovens, que escapam ao vírus quase sem sinais, poderiam transmiti-lo à população mais frágil.
“No que temos de nos focar é no seguimento dos casos sintomáticos”, disse Van Kerkhove. “Se de facto seguirmos os casos sintomáticos, os isolarmos, seguirmos os contactos e mantivermos em quarentena estes contactos, iremos reduzir drasticamente a transmissão”, admitiu.
As autoridades sanitárias moçambicanas que já indicaram muitos casos de pessoas assintomáticas poderão se pronunciar esta terça-feira sobre esta visão da Organização Mundial de Saúde.