O antigo Secretário-Geral da Renamo, Manuel Bissopo, exortou, ontem, aos membros do Conselho do Nacional desta força política a terem coragem para convocar o Congresso, de modo a fazerem cumprir os estatutos do maior partido da oposição no País. Para Bissopo, a Renamo não pode ser gerida pelos tribunais, uma vez que o presidente do partido, Ossufo Momade, não convoca o Congresso.
Manuel Bissopo convocou a imprensa, na quinta-feira, na Cidade da Beira, para juntar-se ao coro de vozes que exigem a realização imediata do Congresso da Renamo. Bissopo entende que, a realização deste encontro, irá contribuir para alavancar a imagem do partido dentro e fora do país. Manuel Bissopo diz ainda que o presidente da Renamo, Ossufo Momade, perdeu a confiança dos membros desta força política e da sociedade civil. “Se há confiança sobre ele, é de um grupo muito reduzido. Nós não podemos tapar o sol com a peneira.
Para Manuel Bissopo, a actual crise que a perdiz vive é resultado da atitude dos membros do seu partido que assessoram o líder da Renamo, que, na sua opinião, pensam apenas no seu bem-estar.
“Não estou na gestão do partido no dia a dia. Mas eu sinto que não há vontade, portanto, por parte da liderança e daqueles que estão em volta, sobretudo, do presidente. O presidente é uma pessoa, não é ele que faz tudo. Há pessoas que ele consulta, portanto, as mais próximas. Essas pessoas também têm uma dose de culpa porque não podem fazer coisas para defender o seu interesse. Eles não podem fazer coisas para defender a sua barriga, isso porque ele e as pessoas mais próximas não podem usufruir das mordomias.”
A crítica estendeu-se, depois, de forma particular para Venâncio Mondlane, membro da Renamo e deputado na Assembleia da República que recorreu aos órgãos de justiça para pôr ordem no partido.
Manuel Bissopo lembrou que Venâncio Mondlane foi assessor político de Ossufo Momade durante cinco anos.
”Primeiro, podia ter assessorado o presidente a não cair nestas asneiras, utilizando os recursos internos. Dois, ele não devia esperar ser exonerado. Devia se demitir para mostrar que, de facto, é íntegro. Ele tem a responsabilidade e assume aquilo que foi confiado por ter, provavelmente, aconselhado o presidente por várias vezes e ele não ter acatado. Para defender a honra e a imagem dele, devia ter-se demitido. Eu não sou especialista em direito, pouco entende da matéria de direito, mas eu sinto que não serão os tribunais a resolverem os problemas internos do partido”.
Para o antigo número dois da Renamo, o partido não pode avançar para as próximas eleições gerais e provinciais, agendadas para Outubro deste ano, sem realizar congresso,pois, o candidato não pode ser imposto.
“Eu defendo os princípios democráticos. Não pode haver imposição para lá daquilo que os estatutos da Renamo dizem. Não é legítimo. Não será legítimo. E nós não vamos admitir que isso aconteça”, chamou atenção.
Bissopo acrescentou que chegou o momento para os membros do Conselho Nacional mostrarem que o partido é democrático e que não defende interesses pessoais. Exortou aos 120 membros do Conselho Nacional reflectirem, com maturidade, sobre o futuro da perdiz.
“Os estatutos defendem que, quem convoca o Congresso, é o presidente, ou um terço dos membros do Conselho Nacional. Isto significa que 40 membros, subscrevendo uma petição, podem convocar oficialmente o Congresso numa situação interna sem precisar de chegar ao tribunal ou passar vergonha, entre outras coisas que não abonam ao partido.”
Manuel Bissopo diz que dificuldades financeiras não podem ser desculpas para o seu partido não realizar congresso. “Se o presidente convocar o Congresso, dar quinze dias e dar uma caixa para as pessoas contribuírem, eu tenho a certeza que ao cabo deste tempo haverá esse dinheiro, quer por parte dos membros, quer por da sociedade ou da comunidade internacional. Todos estão interessados numa Renamo que cumpre as regras”. Questionado se iria concorrer para a presidência da Renamo, respondeu: “A Renamo é um partido muito grande. É um partido de massas. Não é para eu vestir, sair de casa e dizer que quero concorrer. Eu penso que as coisas não podem ser assim. É preciso garantir que a opinião pública interna tome a decisão e nós, como pessoas e membros, seguirmos a maioria porque esse não é um cargo para beneficiar a minha família e muito menos a mim. Mas, como quadro, estou disponível para cumprir qualquer tarefa do partido.
No programa “Grande Entrevista” da quarta-feira, na Stv, Ossufo Momade afirmou que Manuel Bissopo distancia-se do partido. O visado disse que o líder do seu partido está a faltar à verdade. “O presidente do partido veio aqui à Beira, fica uma semana e não me convida a nenhuma reunião de quadros. Agora, como é que eu me isolo? Em que momento eu tenho que contribuir? Ao meu nível, eu também sinto, tenho que me respeitar para ser respeitado. Eu não posso ouvir dizer que o presidente está numa reunião e chegar lá bater à porta. Isto não faz parte do meu perfil.” (TEXTO: JORNAL O PAÍS)