A irreverente cantora moçambicana, Matilde Conjo não ficou indiferente perante aos comentários que vem recebendo nas redes sociais criticando o seu traje na gala Vibratoques

Matilde Conjo reage perante as duras críticas que recebeu por causa do seu traje

A irreverente cantora moçambicana, Matilde Conjo não ficou indiferente perante aos comentários que vem recebendo nas redes sociais criticando o seu traje na gala Vibratoques da Vodacom 2018.

A cantora usou as redes sociais para tentar explicar aos seus fãs qual foi a verdadeira essência do seu look.

A LIBERDADE DA CRIAÇÃO ARTÍSTICA
Aos meus fãs e ao público em geral!

Passada que foi já uma semana depois que aconteceu a Gala de Vibratoques da Vodacom, eis que venho pronunciar-me sobre aquilo que é o meu sentimento relativamente aos comentários do público versus liberdade de criação artística.

Desde já agradecer à Vodacom Moçambique pelo esforço que tem feito na promoção da música moçambicana, reconhecendo o trabalho dos artistas através de prémios que satisfazem o ego do artista. Apoiar e reconhecer o trabalho de um artista é contribuir para o desenvolvimento da cultura moçambicana. Vodacom, Vamos!

Primeiro dizer que nenhum artista é uma ilha. Ele sempre está ligado ao mundo em que vive e nele se inspira. A liberdade do artista desde sempre passa pela raridade e originalidade da sua obra. Deve ser uma obra única. Isso dá ao artista o controle de sua própria obra. Ele decide o que o público vai apreciar ou não.

No meu entender, o campo da arte parece ser o campo por excelência da criação e da liberdade. Mas parece que no mercado moçambicano isso não funciona: os valores, a crítica e exposições pejorativas ridicularizam o artista. Se assim for, onde haverá espaço para criação do novo?

Bom até aqui estava a filosofar.

Mas estava eu a referir-me aos comentários sobre as vestes dos artistas que participaram na Gala de Vibratoques da Vodacom deste ano, e por que não, do ano passado. Tais comentários trazem à tona a discussão pura e dura sobre a liberdade da criação, e se ela deve ou não ser subsidiada pela opinião pública. Se assim fosse não teríamos arte, não teríamos a obra prima, a única obra criada por inspiração do nada – a arte.

Na verdade a criação artística é um território íntimo, privado e pessoal. Faz-se por necessidade vital do artista. São valores que só se tornam públicos quando se tornam visíveis e partilhados para o mesmo público.
Agora, em minha percepção, a recepção da arte em Moçambique é matéria complexa, quase que chega a matar o artista, denegrindo-o e destruindo-o lentamente.

Durante a semana, voltei a ler e a ouvir nas redes sociais e outros meios de comunicação alguma troca de argumentação questionando o tipo de vestimenta que levei à Gala de Vibratoques. Naquele dia vesti-me de freira (Irmã de caridade) da Igreja Católica sim, bebendo uma cerveja, sim, e com óculos de cigarro, sim. Tais comentários pejorativos põem em causa o meu processo imaginário, que exige de mim um processo próprio e ímpar de experimentação e construção da personagem. Tudo o que escreveram ou disseram coloca em causa a criação pura e simplesmente artística. Por quê?

Não tenho nada contra a Igreja Católica e nem contra qualquer outra religião. Em nenhum momento quis desrespeitar as irmãs de caridade daquela igreja, tanto mais que eu mesma sou cristã e tenho fé em Deus. Aquela freira que interpretei representa muita coisa que de fachada parece bom, mas por de trás realiza muitas ilicitudes e imoralidades. Reflictam!

Um artista não serve apenas para oferecer laser à sociedade, mas também educar essa mesma sociedade e, acima de tudo alertar a sociedade para os males que a ela enfermam e que a podem destruir. Portanto a personagem que eu interpretei naquele dia queria expressar algo que não sou obrigada a descrever e nem explicar, pois uma obra de arte pode ter várias interpretações, aos olhos de cada pessoa que a vê. Cada um é livre de fazer uma leitura sobre a minha personagem, que podia ser uma outra qualquer a expressar um certo desagrado ou uma crítica social e religiosa. Quem não sabe que hoje em dia as igrejas surgem como cogumelos em tempo de fartura, mas de igreja nada têm? Algumas são multinacionais, grandes consórcios comerciais, restando saber se o objecto do seu negócio é lícito ou não.

A verdade é que desta vez não mostrei a minha nudez… estive totalmente tapada, mas como sempre, é difícil agradar a gregos e a troianos em simultâneo, digo: é difícil agradar a moçambicanas e moçambicanos. Daí que as críticas caíram em mim mais do que as chuvas da semana passada.
Para terminar, uma coisa é certa, como diz o meu mano Mc Roger: “falem bem ou mal de mim, mas falem de mim.”

Matilde Conjo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *