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Carta aberta ao governador do Banco de Moçambique – Nini Satar

“Excelência senhor Rogério Zandamela. É a primeira vez que eu, Nini Satar, tomo a iniciativa de lhe escrever. Tenho emitido opiniões sobre a situação económica do país, eventualmente algumas delas lhe devem ter chegado já que as posto para o consumo de todos, aqui mesmo no Facebook.

Numa dessas opiniões, recordo-me de ter escrito que a sua nomeação, como governador do Banco de Moçambique, foi, provavelmente, uma imposição do FMI tendo como objectivo, acabar com os esquemas da elite política nacional. Espero não estar errado. É preciso uma verdadeira limpeza!

Vamos ao cerne da questão: saúdo a sua iniciativa de ter intervencionado o Moza Banco e de dissolver o Nosso Banco (ex-BMI). Só que tenho cá as minhas reservas: até que ponto a atitude irá ou não afectar alguns bancos nacionais sérios- não sei se os há-?

Em Janeiro de 2015, o dólar estava a 33 meticais. Em Agosto de 2016, disparou para 79 meticais. Como se pode ver, a subida foi de 100 por cento.

Tenho dúvidas de que o BCP e Caixa Geral de Depósitos, accionistas do BIM e BCI respectivamente, ainda possam injectar dinheiro nesses bancos numa perspectiva tão adversa.

O INSS injectou até 2015, no Nosso Banco, 447.668.088 meticais (na altura correspondia a 13.5.milhões de dólares ). Hoje, o mesmo valor significa 5.7milhões de dólares. Ou seja, em um ano, o INSS viu o seu investimento a reduzir em 7.8milhões de dólares. Existe algum investidor, senhor governador, capaz de injectar o seu dinheiro em Moçambique nestas circunstâncias?

Recordo-me que há quatro ou cinco meses atrás, antes de o senhor ser nomeado governador do Banco Central, o seu antecessor, Ernesto Gove, promoveu uma feira da banca em que participaram todos os bancos moçambicanos. A tónica dominante era a bancarização da economia moçambicana. Havia até palavras de incentivo para convencer qualquer pobre camponês a guardar o seu dinheiro no banco ao invés de enterrá-lo, como tem sido prática.

E muitos aderiram. Abriram as suas contas. Mas, na perspectiva actual, com as medidas tomadas contra o Moza Banco e o Nosso Banco, não se convence a nenhum cego a guardar o seu dinheiro no banco. Não vai acreditar que é seguro. É preferível tê-lo por debaixo do colchão.

Há dias, um dos administradores do Banco de Moçambique falou em programa televisivo, denominado “quid juris”, dizendo que naquela sexta-feira em que o banco emissor resolveu intervir no Moza Banco, se o não tivesse feito, na segunda-feira imediata, o banco já estaria com problemas de compensação.

Isto é muito grave, senhor governador. E a minha pergunta é: qual é o banco sólido em Moçambique? Ao responder esta questão, creia, não estará a agradar Nini Satar, mas, sim, a milhares de moçambicanos sobressaltados.

Em menos de dois meses temos dois bancos problemáticos (Moza Banco e Nosso Banco). Pior: no caso do Nosso Banco os clientes, muitos creio eu, ficaram prejudicados. Que confiança terão os moçambicanos com relação aos restantes bancos? Não será questão de tempo para também sucumbirem com o dinheiro dos clientes?

Duvido muito que a estas alturas ainda exista quem tenha vontade de depositar o seu dinheiro em qualquer banco moçambicano. Os que já lá tinham as suas economias, poderão preferir retirá-las para guardá-las em casa ou qualquer esconderijo. É mais seguro!

Posto aqui uma foto que mostra claramente que o Nosso Banco foi selado. Foi uma medida drástica. Faliu. Até que ponto chegamos, senhor governador?!

Que eu saiba, o Banco de Moçambique está informatizado. O que significa que qualquer compensação é por via electrónica. Ou seja, o Banco Central tem conhecimento de quaisquer transacções feitas pelos bancos comerciais. A pergunta é: como é que o Banco de Moçambique deixou com que a situação do Nosso Banco se tornasse insustentável?

Presumo eu, que alguns administradores do Banco de Moçambique estão conluiados com alguns gestores de bancos comerciais para aldrabarem os pobres moçambicanos. Deveria haver uma sindicância no Banco de Moçambique, de maneira a saber-se quem são esses administradores prevaricadores para que sejam responsabilizados criminalmente.

Tenho pena de alguns pobres empresários moçambicanos ou de qualquer outro cliente do Nosso Banco que dormiu sabendo que tem dinheiro, e acordou no dia seguinte sem nada. Acordou empobrecido. Uma vergonha condenável.

Por hoje termino aqui. Espero, sinceramente, que nenhum outro banco precise de ser intervencionado ou dissolvido, nos próximos dias. É que já está a virar moda”!

Nini Satar

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