O Governador da Província de Inhambane, Daniel Chapo apontou nesta segunda-feira, 11 de março, na cidade da Maxixe que o terrorismo que afecta o norte de Mocambique, com maior destaque para a província de Cabo Delgado, é um problema que deve preocupar a todos.
Chapo falava na abertura de uma reflexão sobre “Mecanismos e Modelos Locais de Promoção de Paz e Reconciliação em Moçambique” organizado pelo Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD) em parceria com a Universidade do Save no âmbito do Projecto “PROPAZ – Cultura de Promoção de Paz, Reconciliação e Coesão Social”.
“Como é de conhecimento de todos temos os ataques terroristas que afetaram algumas regiões da província de Cabo Delgado. Estes ataques têm afectado a economia do país bem como da região e do mundo em geral. Portanto, o assunto do terrorismo não é só de Cabo Delgado, não é só da região norte do nosso país, é do centro, é do sul, é de Moçambique, é da região da Africa-austral, é do continente e é do mundo.”, disse Chapo.
O governante apontou algumas questões a ter em conta para que à paz em Mocambique seja efectiva e duradoira.
“Das lições aprendidas ficou evidente que a paz efetiva e duradoura requer uma combinação de factores, incluindo o respeito pelos direitos humanos, a promoção da justiça, boa governação, desenvolvimento econômico sustentável, a participação do cidadão no combate à corrupção, a promoção da igualdade de oportunidades, a cooperação internacional e regional, a reconciliação nacional e a resolução pacífica de conflitos através do diálogo, compromisso com o desenvolvimento humano, justiça social e boa governação em todos os níveis da sociedade”, disse, tendo acrescentado que “por isso que a paz não é só assunto para partidos políticos, mas é a acção de todos nós, Sociedade civil, confissões religiosas, lideranças comunitárias, lideranças tradicionais, homens, mulheres, jovens e até crianças, precisamos trabalhar todos nós para a paz”.
O encontro decorre de um processo de consultas que o IMD tem estado a levar a cabo em todo o país com apoio da União Europeia com vista a propor uma agenda nacional de promoção da paz e reconciliação nacional. Neste sentido, o Director de Programas do IMD, Dércio Alfazema, apontou o crescimento do crime organizado como um factor de risco para a paz em Moçambique.
“Queremos compreender as razões que nos levam como país assinar vários acordos de paz e estarmos a enfrentar ciclos de conflito. E neste levantamento já encontramos vários pontos críticos, como realização de eleições problemáticas, terrorismo, crescimento do crime organizado e particularmente na província de Inhambane acompanhamos que tem se tornado numa das principais rotas da droga. Isto é preocupante pois como o crescimento do negócio da droga aumenta a possibilidade de ocorrência de outros crimes que podem afectar a estabilidade social, política e economia da província”, disse Alfazema, apontando ainda a necessidade de se reforçar a transparência na gestão dos recursos naturais.
“A província de Inhambane tem ainda um grande potencial em termos de recursos naturais que em algum momento tem gerado insatisfação nas comunidades. Quando a exploração de recursos extrativos gera dúvidas isto pode acabar causando conflitos. Mas também temos a situação da pobreza, falta de emprego e corrupção como sendo situações que precisam de ser resolvidas”.
No evento, a directora da extensão da UniSave na Maxixe, Crisalita Jacofunes, apontou para a necessidade de se compreender melhor a democracia e a partilha de recursos como alguns desafios para reforçar a paz em Moçambique.
“Estamos num país democrático, mas ao mesmo tempo, penso que estamos há muitos anos e ainda não entendemos o que é tal democracia. Ainda há muito trabalho para se fazer entender a democracia na prática. Outro desafio que julgo não menos importante está associado a distribuição de recursos. Aqui não falo de recursos materiais ou, enfim, financeiros. Estou a falar mesmo de distribuição de oportunidades. Neste momento, me vem à mente o problema do desemprego. É muito complicado ouvir jovens a reclamar o facto de, para conseguir colocar o seu filho a trabalhar, devem pagar alguma coisa. Então eu julgo que isto, de alguma maneira, elimina a paz. É um desafio que temos de enfrentá-lo, de cabeça fria, para ultrapassá-lo, porque parece que há cada vez mais oportunidades para aqueles que podem. Então isso não ajuda para uma cultura de paz e para um país que se quer de paz”, referiu.
Este foi o quinto encontro dos onze que vão decorrer em todo o País, para além de encontros regionais e nacionais que vão juntar autoridades locais, Organizações da Sociedade Civil, Partidos Políticos, académicos, líderes (comunitários e religiosos), artistas, estudantes, entre outros. (RM)