Credit Suisse: Auditoria à dívida de Moçambique é “incorreta e enganadora”
Credit_suisse O banco suíço Credit Suisse considerou ontem que as conclusões da auditoria da Kroll à dívida escondida de Moçambique são “incorrectas e enganadoras“, garantindo que as comissões recebidas foram de 23 milhões de dólares.
“A conclusão [da auditoria] de que o Credit Suisse recebeu 100 milhões de dólares ou mais em taxas de mediação financeira é incorrecta e enganadora“, disse o banco suíço numa declaração citada pela agência de informação económica Bloomberg.
“As taxas bancárias para o Credit Suisse totalizaram 23 milhões de dólares, mais ou menos 2,3% do financiamento total e estão em linha com as transacções financeiras comparáveis realizadas nos mercados emergentes“, acrescenta o banco que mediou, juntamente com o russo VTB, os empréstimos de empresas públicas moçambicanas que não foram comunicados nem às autoridades do país nem aos doadores internacionais.
O banco suíço respondeu assim à divulgação, no sábado, do sumário executivo da auditoria apresentada pela consultora Kroll à Procuradoria-Geral da República de Moçambique, que afirmou que estes dois bancos receberam 200 milhões de dólares em comissões por terem organizado os empréstimos às empresas públicas Mozambique Asset Management (MAM) e Proindicus.
O VTB, por seu turno, disse que não irá comentar a auditoria até ler o documento de forma detalhada.
A divulgação do sumário era uma das condições defendidas pelos doadores e pelas instituições financeiras internacionais para voltarem a ajudar o país, o nono mais pobre do mundo.
A auditoria às dívidas ocultas de Moçambique deixou por esclarecer o destino dos dois mil milhões de dólares contraídos por três empresas estatais entre 2013 e 2014, disse a PGR no domingo.
“Lacunas permanecem no entendimento sobre como exactamente os 2.000 milhões de dólares foram gastos, apesar dos esforços consideráveis” para esclarecer o assunto, refere a PGR em comunicado sobre a investigação da Kroll.
Por outro lado, “a auditoria constatou que o processo para a emissão de garantias pelo Estado parece ser inadequado, sobretudo no que respeita aos estudos de avaliação que devem ser conduzidos, antes da sua emissão“, acrescenta-se.
As garantias foram passadas sob a presidência de Armando Guebuza, sem conhecimento do parlamento, nem dos parceiros internacionais – como o Fundo Monetário Internacional (FMI) – para suportar os empréstimos contraídos pelas empresas Ematum, Proindicus e MAM.
O escândalo das dívidas ocultas rebentou em Abril de 2016 – a dívida de 850 milhões de dólares da Ematum era conhecida, mas não os 622 milhões da Proindicus e os 535 da MAM – e atirou Moçambique para uma crise sem precedentes nas últimas décadas.
Os parceiros internacionais suspenderam apoios, a moeda desvalorizou a pique e a inflação subiu até 25% em 2016, agravando o custo de vida já de si elevado para os cidadãos.
Segundo a procuradoria, a investigação da Kroll descobriu “divergências entre as explicações” para uso da verba e detectou “falhas graves na forma como foram feitas as avaliações para emissão de garantias pelo Estado“.
Há mesmo um valor de mil milhões de dólares correspondente a três garantias, do total de cinco que foram emitidas, em que “não há evidências de ter sido feita qualquer avaliação“.
Foram ainda identificados “potenciais conflitos de interesse em relação a algumas pessoas intervenientes no processo de autorização das garantias do governo para as empresas auditadas“.
A PGR destaca ainda que o Grupo Privinvest, contratado pelas empresas estatais para fornecer bens e serviços para os quais supostamente serviria o dinheiro, teve “um papel determinante no projecto” participando em quase todo o seu desenho, inclusivamente na ligação aos bancos que emprestaram o dinheiro, o Credit Suisse e o VTB.
Lusa – 26.06.2017