O filho do ex-Presidente da República, Samora Machel Júnior vai passar os próximos quinze dias em isolamento profilático, tendo suspendido toda a agenda oficial que estava programada.
Samora Machel Júnior esteve em contacto com pessoas onde há casos do coronavírus activo, isto no estrangeiro.
Fonte próxima confirmou o isolamento profilático de Samito A mesma fonte explica que Samito não terá estado em contacto pessoas com suspeita de infeção pelo covid-19, contudo quer dar o exemplo seguindo o aconselhamento das autoridades de saúde.
Veja o que ele escreveu :
“Vou hoje no meu segundo dia de quarentena domiciliar em regime de auto-isolamento.
Não por ter sido diagnosticado com o COVID-19, ou por ter qualquer tipo de sintoma. É que acabei de regressar de uma viajem de trabalho a um país afectado pelo coronavírus onde estive durante 5 dias, tempo mais do que suficiente para interagir com várias pessoas, cujo estado de saúde desconhecia e deconheço.
Mesmo antes do regresso, debati longamente com a minha família sobre o que devia fazer após regressar a Moçambique. Confesso que, inicialmente, porque não tinha nenhum sintoma e porque achava que não tinha interagido com ninguém visivelmente infectado, cheguei a cogitar não fazer sentido ficar de quarentena voluntária. Algumas pessoas, por outro lado, achavam que devia fazer o teste, por precaução.
Antes de tomar uma decisão, li e escutei o mais que pude sobre o assunto. Disso aprendi duas lições importantes. Fazer o teste sem ter sintomas (apesar de ter estado num contexto de risco), sobretudo num país que tem testes em pouca quantidade, seria uma decisão sem cabimento e uma atitude egoísta. Por outro lado, não fazer a quarentena só por achar que não tinha tido contacto com ninguém, a olho nu, infectado, também seria uma decisão estúpida, pois uma pessoa pode estar infectada durante 10 a 12 dias sem sintomas e ser capaz, durante esse período, de transmitir o vírus.
Assim, a nossa decisão – sim, nossa, porque foi uma decisão que ia afectar toda a minha família imediata e o sucesso dessa decisão iria depender da colaboração de todos eles – foi mesmo de fazer a quarentena domiciliar voluntária em regime de auto-isolamento, ou seja, em minha casa, mas isolado do resto da minha família nuclear.
Antes mesmo de eu chegar, um quarto e uma casa de banho (temos essa sorte e estou consciente que somos muito privilegiados) separados foram preparados para mim. Quando cheguei a casa, lavei as mãos logo à entrada e fui direitinho tomar banho e depois fechei-me no meu quarto. Não houve os habituais cumprimentos à minha mulher (que só me viu a entrar à distância) e quando, ao fim do dia, os meus filhos chegaram, só os “vi” pelas vozes.
Este tem sido o maior choque: a separação física da família. A minha esposa, de luvas e máscara, deixa-me a comida e a roupa lavada à porta do quarto e, pelo mesmo método, recolhe a roupa suja, fechada num saco, que é lavada na máquina com água quase a ferver, separadamente da roupa do resto da família. Depois dos miúdos dizerem à noite o seu “Tchau, Pai! Até amanhã” à distância, eu e a Jovita tentamos matar a saudade “namorando” através da porta fechada. É o que nos resta pelas próximas 2 semanas para manter o bom ânimo.
O dia-a-dia é totalmente diferente do que estou habituado. Lavo as mãos 4 vezes por dia, apesar de estar confinado ao meu quarto. Depois de comer, lavo a minha própria loiça, que mantenho comigo no quarto. Tomo uma bateria de vitaminas e suplementos para manter forte o meu sistema imunológico. Bebo água morna com limão e meço a temperatura várias vezes ao dia. Se alguém precisa de entrar para o meu espaço, tem que usar uma máscara e eu também ponho a máscara. Passo o dia a trabalhar no computador, a ver TV, a escutar música e a conversar com a família e amigos através do telemóvel e das redes sociais. E digo-vos: depois de algum tempo, é de dar em doido!
Felizmente continuo a não ter sintomas nenhuns, mas vou continuar nesta rotina por pelo menos mais 12 dias.
Porque me sujeito a mim e à minha família a este sacrifício? Não é tanto por mim, mas porque estou consciente que é vital proteger os meus e as demais pessoas com quem eu possa interagir, caso eu esteja infectado. E nada me garante agora que daqui a alguns dias não venha a ter sintomas e a descobrir que estou infectado. Se isso acontecer, terei poupado muita gente, sobretudo os que mais amo, desse desfecho. A prevenção, por muito custosa, é muito melhor do que a doença e o tratamento. Disto não tenho nenhuma dúvida!
Não está a ser fácil! Saber que os teus amados estão por perto, mas não os podes ver nem te aproximar deles é duro. É contra todo o nosso instinto humano. Mas esta é, afinal, a definição do verdadeiro amor. Arrisco-me a dizer que este está a ser, provavelmente, um dos maiores testes de determinação e disciplina pessoais porque já passei. Vou gerindo a situação um dia de cada vez, consciente de que é duro, mas mais consciente ainda que não vou nem posso desistir.
Resolvi partilhar esta experiência imensamente pessoal para dar força a todas as famílias que estão ou venham a passar por esta necessidade e obrigação. Sintam satisfação pelo facto de que o preço que pagam como família tem como prémio a protecção do resto dos nossos compatriotas.
Muito provavelmente, o pior ainda está por vir para nós como país. A nossa decisão como família em relação à quarentena e a minha decisão de partilhar publicamente esta história são um pequeníssimo e modesto contributo para que o que ainda nos espera possa esperançosamente ser um pouco menos difícil. A grande lição que estou a aprender e quero compartilhar é que, nestas coisas, individualmente caímos, mas juntos vencemos.”
Siga o exemplo.