No passado dia 4 de Junho, um casal foi publicamente apresentado à imprensa como sendo os ladrões que aterrorizavam a vila de Homoíne, subtraindo bens nas residências.
À data dos factos, um dos indiciados, no caso, o marido, confessou à imprensa ter sido ele quem roubou os diversos bens recuperados pela Polícia, com destaque para electrodomésticos, utensílios de quarto e baterias de viaturas.
A mulher que era acusada de vender os bens roubados disse que não sabia da origem dos mesmos e que não tinha conhecimento de que o marido era ladrão. A senhora disse, na mesma ocasião, que, no dia em que os agentes da Polícia chegaram à sua casa, ela e o marido se desentenderam justamente porque queria saber da origem de alguns bens que acabara de trazer.
O que não se sabia era que a confissão foi tirada à força. Um vídeo amador, de mais de sete minutos, posto a circular nas redes sociais, mostra a mesma senhora deitada numa esteira, sendo violentamente torturada por dois agentes da Polícia, sendo um homem e uma mulher, enquanto os outros assistiam ao cenário de violência.
Um dos agentes, no caso o homem, batia a senhora nas pernas com recurso a um instrumento que não é possível identificar, enquanto a mulher a pisoteava na zona do abdómen e na cabeça para imobilizá-la, de modo a não fugir da violência policial.
No mesmo vídeo, estão outros agentes da Polícia, sendo um uniformizado e outros à paisana. Entre eles, está o chefe de operações do Comando Distrital da PRM em Homoíne, que assiste ao cenário de violência nada fazer para impedir que os seus subordinados torturarem a mulher indiciada de roubo.
Falando a jornalistas na manhã desta terça-feira, a chefe de departamento de relações públicas no comando Provincial de Inhambane, Nércia Bata, classificou o acto como sendo um comportamento isolado e disse não ser aquela a forma como a Polícia trabalha nas suas operações. Nércia Bata revelou que foi aberto um inquérito para apurar o que realmente teria acontecido naquele dia e que garantiu que, independentemente das causas que levaram a tamanha brutalidade dos agentes, os mesmos serão criminalmente responsabilizados.
Questionada sobre o facto de a operação de tortura estar a ser liderada pelo chefe de operações, Nércia Bata não confirmou nem desmentiu, mas disse que a comissão de inquérito tem entre as suas responsabilidades a missão de identificar todos os envolvidos no acto macabro.
O “O País” sabe que foi instaurado um processo crime contra os agentes, estando o mesmo a ser liderado pelo Ministério Público.