O músico Arão Litsure morreu na madrugada de ontem (14.04), vítima de doença, na África do Sul, onde esteve hospitalizado uma semana. O artista nasceu no Distrito de Panda, em Inhambane, filho de uma maestrina e de um pastor.
A música começou a fazer parte da sua vida quando se encontrava no ventre da mãe. O facto de ter uma maestrina da igreja como mãe influenciou bastante o então menino Arão. Aliás, a primeira vez que leu notas musicais foi com a mãe, muitas vezes, até contrariado por não julgar as lições importantes.
Com o passar do tempo, a música foi fazendo parte de sua vida e Arão Litsure começou a cantar, já aos sete anos de idade, num grupo musical do bairro onde vivia. Arão Litsure viveu no Chamanculo, periferia da capital moçambicana, e nos anos 70, período colonial, já cantava com amigos em alguns espaços da então Cidade de Lourenço Marques. Mas foi com Hortêncio Langa e João Cabaço, todos falecidos, que a sua arte de cantar e de tocar ganhou uma projecção ainda maior.
Um dos grupos que marcou a sua carreira artística foi Alambique, no qual também colaboraram Hortêncio Langa, João Cabaço, Childo Tomás (em Espanha) e Celso Paco (na Suécia).
Amou a música e aí ficou conhecido, mas também se dedicou à literatura. Numa entrevista da qual se extrai a sua biografia, cedida à Verdade, em 2015, o músico afirma o seguinte: “A minha relação com a escrita vem de há anos. Mas com a minha ida ao estrangeiro para estudar teologia, no nível universitário (licenciatura e mestrado), devido à necessidade de escrever monografias e por influência de alguns amigos que já escreviam como é o caso de Hortêncio Langa, decidi também ‘esboçar’ algumas histórias”. Por exemplo, 25 contos do ventre dos refugiados ou Há negros na Bíblia(?), que, à época, levantou um debate aceso.
A vida de Arão Litsure, com efeito, esteve dividida entre a música, a literatura e a igreja. Herdou o amor pelas artes e o temor a Deus dos pais e cultivou as suas paixões até ao fim, até não poder se despedir dos que ao longo dos anos têm-no como referência da música e da cultura moçambicana.
Arão Litsure foi um homem versátil. O seu contributo, sempre didáctico, passou pela televisão. Na Stv o músico contribuiu como membro de júri e mentor vários grupos corais no FestCoros. Nesse programa o artista ensinou, orientou e deu horizonte aos que, como ele, também adoravam a Deus através da arte do canto.
Na madrugada deste domingo, o músico deixou esposa, filhos e um país consternado. Segundo, Jomalu, da Sociedade Moçambicana de Autores (SOMAS), por ser domingo, o processo de transladação do corpo da África do Sul para Moçambique deverá iniciar nesta segunda-feira (15.04).
Reagindo, através de uma nota de condolências, o Ministério da Cultura e Turismo (MCT) escreveu o seguinte: “perdemos, hoje (14.04.24), o músico Arão Litsure, homem de créditos firmados na arena musical nacional e que serviu, desde tenra idade, a cultura moçambicana com talento inquestionável.”
Nunca iremos nos habituar à partida de pessoas que fazem diferença e que deram a sua contribuição para o enriquecimento do espólio artístico cultural de um povo. É o caso de Arão Litsure, homem que abraçou a música e também a literatura, mostrando sua versatilidade, igualmente, pelos seus conhecimentos teológicos que estenderam a sua prestação social para um campo vasto.
Com muita dor, endereço as mais sentidas condolências à família do multifacetado Litsure e também aos fazedores das artes.
Lembraremos o seu contributo nas artes e continuaremos a cantar “Malangavi Ya Ndzilo”, para manter a sua chama sempre acesa.
O seu legado será perpetuado por gerações que continuarão a validar as suas obras no seio da cultura moçambicana.
Vá em paz, Arão Litsure! (JP/IMN)