Os Telemóveis Devem Ou Não Ser Partilhados Entre Casais?
Por: DeSousa
Quando fazia a minha vigilância rotineira nas minhas redes sociais, deparei-me com um vídeo de um casal de “jovenzinhos” no carro, com ares dos mais felizes do mundo, aconselhando para que as pessoas que namorem não tenham nenhuma privacidade no que se refere aos telemóveis, tendo ainda diabolizando, todos aqueles parceiros que apagam os “chats” como forma de esconder aos parceiros as suas conversas “privadas”, tendo os mesmos terminado o vídeo dizendo o seguinte: “pessoal, se querem manter a vossa privacidade, fiquem sozinhos…”
Acho que estou a ficar um pouco velho porque, no fundo, entendo que não deveria me meter na vida dos meus mais novos porque nem sequer fui chamado ao debate, mas enfim, vamos a isso.
Meninos, entendam o seguinte:
O namoro e mesmo o casamento não deve ser visto como a perda dos direitos de personalidade e de intimidade. Uma relação serve para nos agregar valor e nunca retirar. Quando as pessoas se relacionam e pretendem conviver por mais tempo juntas, devem saber que o seu companheiro(a) não nasceu no dia em que estes decidiram namorar ou casar, mas que cada uma daquelas pessoas já vinha tendo a sua vida, mas que com aquela relação, os mesmos decidiram unir as suas similitudes (como efeito catalisador da felicidade) e partilhar as angústias da vida (como efeito atenuador dos infortúnios da vida) e juntos, procurar o bem comum.
Em direito se diz que há bens comuns e bens próprios. A residência do casal e o respectivo mobiliário, ou mesmo viaturas (havendo) costumam estar na categoria dos bens COMUM e as roupas de cada um, por vezes jóias e material de trabalho, costumam se encontrar na categoria dos bens PRÓPRIOS dos casais.
A pergunta que se coloca é, onde é que os telemóveis se encontram? Próprio ou comum?
Para tal, temos de dividir o telemóvel em 2 parcelas distintas: o hardware e o software. O hardware será o telemóvel em si (tipo, marca, modelo, ano de fabrico etc.) e o software, será o conteúdo lá introduzido, desde as aplicações, programas, mensagens, chamadas etc. Resumindo: tudo aquilo que seja do domínio exclusivo de quem o faz uso é o software.
Penso que olhando por esta perspectiva é muito fácil concluir que em termos de propriedade do telemóvel, o hardware deverá ser considerado um bem comum do casal e o software um bem próprio de cada parceiro(a), namorado(a) ou esposo(a).
Isso que se disse acima tem mais a ver com o Direito.
E como é que a coisa deve funcionar na Sociedade?
Estatisticamente e hodiernamente o telemóvel é dos grandes vilões dos casamentos. Mais de 85% dos divórcios e separações tem como ponto de partida, provas ou suspeitas de infidelidade provindas dos telemóveis, seja dela ou dele (principalmente dele).
Mesmo se sabendo disso, os casais não se podem privar de fazer uso dos telemóveis uma vez que aquele “brinquedinho” hoje faz quase tudo e até é uma potencial ferramenta de trabalho para muitos. O que os casais deverão fazer, na verdade, não é proibir o uso mas criar “regulamentos domésticos” que permitam que os telemóveis não atrapalhem os seus planos de vida.
Isto é: eu sei que todos os leitores deste artigo são 100% fieis aos seus parceiros. Mas o problema não é ser fiel mas sim, mais que tudo, parecer fiel.
Num mundo dos whatsapps, facebooks, twitters, instagrams e outros aplicativos sociais é impossível parecer-se fiel. Todos nós somos diariamente bombardeados com assédios de todo tipo, desde mensagens robotizadas (criadas por programas automáticos), até aquele nosso antigo vizinho que nos descobriu no Facebook e decidiu recordar os “velhos tempos” mandando um “emoji” de beijinho-doce ou de corações-apaixonados. É um ataque diário e ininterrupto que os nossos telemóveis sofrem. Mais ainda, quase todos que tenham telemóveis do tipo “smartphone” fazem parte de grupos de WhatsApp e outros, onde são inesperadamente trucidados com vídeos eróticos, de escândalos e notícias de última hora.
Essa é a sociedade do século 21 em que vivemos.
Se cada um dos parceiros de namoro ou casamento quiser controlar cada assédio, vídeo, foto e post do seu parceiro como forma de assegurar que a mesma ou o mesmo seja fiel terá no mínimo 3 dos seguintes destinos: separação, manicómio ou mesmo suicídio.
O mundo dos telemóveis hoje, está de tal modo “violento” que por vezes mais vale não ver, do que ver e se preocupar “a toa” por questões que nem o próprio receptor sabe do que se trata.
Quem dos leitores, nunca viu aquela mensagem no telemóvel do seu parceiro com o teor de “Oi” ou “Eu também”de um número não gravado? O “Oi” ou “Eu também” é uma mensagem que, quando levada muito a sério, pode destruir milhões de lares. É uma verdadeira bomba atómica doméstica.
Caros amigos. Se a traição tiver que acontecer, não é porque vocês não controlaram bem os telemóveis, mas porque ia mesmo acontecer de uma maneira ou de outra. Evitar
a traição controlando os telemóveis é o mesmo que “escrever um lindo poema na água”. As traições podem ocorrer nas escolas, serviço, igreja, gym, viatura, motéis, etc etc. Não é policiando o telemóvel alheio que se evita a infidelidade, mas sim, policiando a mente. Neste caso, policiar a mente é conquistá-lo(a) todos dias, fazendo aquilo que fazias antes de ela ou ele ser teu ou tua. Paquerar e seduzir diariamente.
Os telemóveis devem ser colocados muito de fora das relações. Para o bem da nossa saúde, os telemóveis dos enamorados e casais devem estar constantemente trancados e no silêncio 24 horas por dia. As vezes a ignorância poupa-nos de morte precoce por problemas cardíacos. Há coisas das quais não se foge mas apenas gere-se com inteligência e maturidade. Caso contrário, não passarás de uma mera abelha, galopando de flor em flor a procura da flor perfeita que nunca existirá.
Não há flor que não resista a passagem do tempo, mas há flores que não dependem da chuva para irradiar o seu magnífico semblante e exalar aquela flagrância inebriante.
Deixe o seu telemóvel aberto e procura um advogado!
PS: Perdoem-me pela frontalidade, devem ser resquícios da idade relativamente avançada.