Finalmente a OMS cede às evidências e já recomenda também o uso de máscaras

Por Gustavo Mavie

Depois duma longa oposição ao uso de máscaras pelo público em geral, excepto para os trabalhadores dos serviços de saúde, a Organização Mundial da Saúde (OMS), cedeu este fim-de-semana, e já recomenda também o uso de máscaras por todas as pessoas assim que estejam em locais públicos, para evitarem serem contaminadas ou para não contaminarem outras para o caso daquelas que já estejam infectadas pelo coronavirus.

Desde a eclosão do coronavírus na cidade chinesa de Wuhan nos finais do ano passado, a OMS sempre insistiu em dizer que não havia evidências suficientes para orientar que as pessoas saudáveis deveriam usar máscaras. Esta sua alegação revelou-se para mim como não fazendo sentido, face a um vírus como o coronavírus, uma vez que é mais do que certo que há muitas pessoas que já estão infectadas mas que não sabem e nem se apercebem que estão, porque nem sempre o Covid19 causa dores ou se traduz em sintomas que possam despertar ou permitir que os infectados se apercebam ou saibam que estão contaminados.

O carácter ambíguo ou mesmo contraditório desta alegação da OMS levou-me a contestá-la através de artigos que escrevi defendendo que todas as pessoas deveriam usar máscaras em locais públicos ou de concentração de muita gente, para evitarem que sejam contaminadas ou para que não contaminem outras no caso em que os próprios usuários estejam infectados sem que o saibam ou se apercebam que estão.

Num dos artigos que escrevi no dia 6 de Abril último, defendendo o uso massivo de máscaras, citava um dos especialistas chineses em doenças infecciosas, George Gao, e também Director-Geral do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, que revelou à revista especializada Science, que os países ocidentais e todos os que ainda não obrigam os seus povos a usarem máscaras, estão a cometer um grave erro que já se revela agora pelas infecções massivas que estão se registando onde o seu uso não é ainda compulsivo.

“O grande erro nos EUA e na Europa, na minha opinião, é que as pessoas não estão usando máscaras. Este vírus é transmitido por gotículas e através de contactos interpessoais. Essas gotículas desempenham um papel muito importante – você precisa usar uma máscara, porque quando você fala, sempre há gotas de saliva saindo da sua boca”, disse Gao numa entrevista que deu à Science. Ele desfaz a tese de que só quem está doente ou que está com sintomas é que deve usar máscara, alertando que há pessoas que estão infectadas mas que ainda não sabem e muito menos estão doentes.
No mesmo artigo em que defendia o uso massivo de máscaras, citava ainda esta argumentação de Gao: “a China conteve o vírus em grande parte devido ao uso das máscaras. Ele diz que há muitas pessoas que carregam o vírus, mas não demonstram sintomas. Se elas usarem máscaras, isso pode impedir que as suas gotículas que transportam o vírus escapem e acabem por infectar outras pessoas que estejam próximo deles.

Para além de Gao, citava ainda uma explicação do professor de saúde pública e cuidados primários sanitários, K.K. Cheng, da Universidade britânica de Birmingham, e um dos acérrimos defensores da adopção de máscaras pela população naquele país, em que ele vincava que qualquer máscara, mesmo as caseiras.

Nas suas declarações à BBC Mundial, Cheng disse não estar contra todas as outras medidas já recomendadas, como “manter as distâncias com outras pessoas e lavar sempre as mãos porque de facto se provaram como medidas cruciais neste momento. Mas diz que tudo isto não dispensa usar uma máscara, do mesmo modo que diz que ficar em casa protege melhor e evita que haja superlotação nos hospitais e pode salvar mais vidas’’.

Mas agora Maria Van Kerkhove, a especialista técnica da OMS em Covid-19, disse este fim-de-semana à Agência de notícias Reuters, que a recomendação é que as pessoas usem uma “máscara de tecido – ou seja, uma máscara não médica” em áreas onde há risco de transmissão de a doença. Ela disse que novas informações mostram que as máscaras podem ser “uma barreira para gotículas potencialmente infecciosas”.

Governos de vários países, incluindo o moçambicano, deliberaram há muito e à revelia da OMS que todos os seus cidadãos devem usar máscaras sempre que estejam em locais públicos para que não se contaminem ou para não contaminarem outras caso estejam já infectadas.

Esta mudança da OMS ocorre quando há já em todo o mundo mais de 6,7 milhões de pessoas que já testaram positivo do Covid19, número que inclui mais de 400 moçambicanos, e ainda mais de 400.000 mortos desde que o surto começou no final do ano passado, segundo dados compilados pela Universidade Johns Hopkins. A OMS diz agora que esta sua nova orientação foi motivada por estudos nas últimas semanas, mas já não revelou que estudos são esses e quem são os autores. “Estamos aconselhando os governos a incentivar que o público em geral use uma máscara”, disse Van Kerkhove.
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