Professor com apenas a 12ª classe formou licenciados no ISCTAC

Com contornos trágico-comicos, o “analista politico” e docente universitário, Elidio Cuco (ver aqui) terminou a sua Licenciatura em Setembro de 2019 e o Mestrado em Dezembro do mesmo ano. Um caso suis generis e insólito que está a deixar espantados e de cabelos iriçados sectores da academia moçambicana, e não só. O Ministério do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia deverá ser a entidade que poderá dissipar esta nuvem cizenta. No meio de muita poeira o ISCTAC enviou ao Centro de Jornalismo Investigativo (CJI) uma carta de direito de resposta que mencionamos neste trabalho. Apresentamos igualmente o certificado de licenciatura do docente em causa.

O Centro de Jornalismo Investigativo (CJI) efectuou uma série de diligências alicerçadas na lei acesso a informação que nos conduziram a aceder ao certificado de habilitações literárias e a declaração de cadeiras feitas do analista político Elídio Cuco, os quais nos permitem concluir que o distinto “mestre” com “licenciatura oculta” afinal somente terminou o curso de licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia no extinto Instituto Superior de Relações Internacionais e Diplomacia (ISRI) em 2019, tendo supostamente defendido a sua tese de licenciatura no dia 18 de Setembro do mesmo ano.

Tanto o certificado de habilitações literárias quanto a declaração de cadeiras feitas, cujas cópias tivemos acesso, foram emitidos pelo extinto ISRI no dia 24 de Janeiro de 2020, documentos devidamente assinados pelo respectivo Director Académico daquela instituição de ensino superior, Paulo Wache. Quando o CJI, em Dezembro expediu missivas solicitando a devida informação ao imbróglio que estava sendo vivido no ISCTAC, esta instituição seguiu as mesmas demarches.

Com efeito, como explicar que Elídio Cuco exerça as funções de docente universitário do Instituto Superior de Ciências e Tecnologias Alberto Chipande (ISCTAC) há sensivelmente cinco anos, tendo em conta que somente obteve o grau de licenciatura em Setembro de 2019 e o seu patronato só em Janeiro deste ano se preocupou com as suas notas e certificados?

Em termos de habilitações literárias, tal significa que o ora “mestre” Elídio Cuco esteve a formar “licenciados” durante os últimos cinco anos tendo apenas a 12ª classe. Por outro lado, como explicar que o mesmo tenha obtido o grau de “mestre” no ISCTAC em 2019 se foi nesse mesmo ano que concluiu a licenciatura no ISRI?

São perguntas cujas respostas ainda permanecem no segredo dos deuses, mas que levam a concluir que, enquanto docente do ISCTAC durante os últimos cinco anos, Elídio Cuco terá “formado” dezenas de licenciados sem que ele mesmo tivesse o grau de licenciatura bem como terá supervisionado as teses de licenciatura de muitos estudantes naquela instituição de ensino superior sem ter concluído a sua licenciatura e sem sequer ter ele mesmo defendido a sua tese, uma verdadeira missão impossível jamais vista na história cinematográfica mas que somente terá se tornado possível graças ao sistema de burlas, falsificação de documentos, falsidade ideológica, corrupção, clientelismo, nepotismo e abuso de poder na obtenção de títulos académicos que há muito se instalou no nosso sistema de ensino superior.

É impressionante a forma como o ISCTAC tem se desdobrado em esforços descomunais para impedir o esclarecimento deste assunto, ora violando os prazos de prestação de informação previstos na lei do direito à informação, ora alegando o encerramento das instituições devido a pandemia do COVID 19, bem como, por incrível que pareça, fazendo desaparecer o certificado numa pretensa tentativa de exercer o direito de resposta à nossa anterior peça de reportagem.

O ISCTAC somente enviou ao ISRI um pedido de verificação da autenticidade do certificado de habilitações literárias de Elídio Cuco no dia 07 de Fevereiro de 2020, sendo estranhamente o mesmo certificado que foi emitido pelo ISRI no dia 24 de Janeiro de 2020, ou seja, depois do Centro de Jornalismo Investigativo haver questionado os factos num ofício enviado ao ISRI no dia 17 de Janeiro de 2020. É no mínimo estranho, senão mesmo ridículo. Mas vamos por partes.

Será que esse certificado e declaração de cadeiras feitas, ambos emitidos a 24 de Janeiro de 2020, são os mesmos documentos com os quais o visado iniciou a sua carreira docente no ISCTAC em 2015 e ingressou no mestrado naquela mesma instituição de ensino superior em 2018? Essa é uma situação que será somente possível se estivermos diante de um indivíduo cuja progressão académica estará a ocorrer de frente para trás e não de trás para frente, ou seja, começa por fazer mestrado, depois faz a licenciatura para depois fazer a 12ª classe, a 10ª e assim sucessivamente até a primeira classe.

Se não forem os documentos de 2020, onde estão os documentos que permitiram a sua admissão em 2015? O Centro de Jornalismo Investigativo (CJI) continua a fazer diligências com vista a achar o paradeiro desses documentos ocultos, pese embora acreditemos que os mesmos possam agora ser feitos desaparecer, por causa da vergonha que agora se abateu sobre a instituição.

As posições do ISCTAC

Para não admitir que ao longo dos últimos cinco anos os seus estudantes dos cursos de licenciatura estiveram a ser formados por um docente que não tinha o grau de licenciatura, assim como para não admitir que esse docente obteve o grau de mestre naquela mesma instituição de ensino superior sem que tivesse o grau de licenciatura, o ISCTAC enviou uma carta ao Centro de Jornalismo Investigativo (CJI) com o intuito de exercer o direito de resposta, uma manobra fracassada com o objectivos de nos confundir.

Com efeito, no lugar de esclarecer os factos, aquela instituição de ensino superior tornou o caso ainda mais complexo ao fazer desaparecer o certificado de licenciatura dos anexos constantes do seu pretenso exercício de direito de resposta, deixando chegar ao nosso conhecimento apenas a declaração de cadeiras feitas para confirmar que o visado terminou a licenciatura. Nem com a nossa insistência o ISCTAC conseguiu explicar o paradeiro do certificado, ao qual somente tivemos acesso, como referimos anteriormente, com recurso a outras diligências no ISRI. É este certificado que chegou as mãos do CJI e que hoje publicamos em anexo na presente reportagem.

Para além de ter feito desaparecer o certificado nos anexos do pretenso direito de resposta, o ISCTAC vai esclarecendo que a demora na resposta ao nosso questionamento deveu-se à situação do COVID 19 e ao encerramento das instituições de ensino. Sem nunca esclarecer como um indivíduo com apenas 12ª classe formou “licenciados” nos últimos cinco anos, o ISCTAC termina aconselhando o visado Elídio Cuco para que, querendo e a título individual, possa defender-se e accionar todos os mecanismos ao seu dispor para repor a sua reputação e imagem académica, ora chamuscada. Sem pretender colocar em causa a reputação e imagem académica do “mestre” Elídio Cuco, que formou “licenciados” durante cinco anos no ISCTAC quando afinal tinha apenas 12ª classe. E como terá feito o seu mestrado no mesmo ano em que fez a licenciatura? As respostas a essas questões continuam no segredo dos deuses. O CJI está a debruçar sobre a lei do ensino superior e ontem obtivemos esclarecimentos oportunos do docente que traremos a público, em breve.

Fonte CJI

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