Dívidas Ocultas: Guebuza avisou a Boustani “nada de suborno” no projecto

jean boustan filho

O empresário libanês Jean Boustani, apontado como pivot do escândalo das dívidas ocultas em Moçambique, disse no Tribunal de Brooklin, em Nova Iorque, que o antigo Presidente Armando Guebuza garantiu-lhe que não podia haver nenhum caso de suborno no projecto idealizado pela Privinvest, de que Boustani era um dos donos.

No testemunho prestado na terça-feira, 19, o segundo em dois dias consecutivos, Boustani falou durante seis horas e meia, em resposta ao advogado de defesa, o que irritou o juiz que avisou saber como “acabar com isto”.

O empresário, no entanto, garantiu ter pago subornos a intermediários, apesar do aviso de Guebuza que pediu que ajudasse o filho, “Júnior”, a se tornar empresário.

De acordo com uma nota do Centro de Integridade Pública (CIP) de Moçambique, que acompanha o julgamento, Jean Boustani disse ter chegado a Maputo no início de Janeiro de falado com Armando Ndambi Guebuza.

“Falei com o Júnior e expressei a minha frustração. Disse que ‘já passam 2 anos a falar com bancos e autoridades de Abu Dhabi e nada avança. Se fosse possível arranjar um encontro com o seu pai para dar explicação…’”, contou o empresário a quem Ndambi prometeu facilitar um encontro na festa de aniversário de Armando Guebuza, a 20 de Janeiro de 2013.

“Encontrei-me com o Presidente Guebuza na festa do seu aniversário. Eram 70 anos. Falei detalhadamente sobre tudo o que estávamos a tentar fazer desde 2011. Enfatizei a estratégia de protecção costeira”, narrou.

“Ele disse que o projecto era bem-vindo. Falou-me da sua visão sobre Moçambique. Disse-me que era general e antigo combatente da luta de libertação nacional e que agora faltava garantir a independência económica do país. Disse que estava em fim do mandato e queria deixar isso como seu legado. E pediu-me para ir ao seu escritório no dia seguinte. E lá fui com o Armando”, continuou.

Sem suborno, mas com pedidos

No dia seguinte, uma segunda-feira, Boustani afirmou ter ido ao gabinete do então Presidente da República a quem informou que o projecto teria andamento e que o focal point seria alguém sénior dos serviços secretos que o iria contactar.

“Eu falei-lhe de Abu Dhabi, da relação de Safa com a família real, do valor acrescentado que a Privinvest iria trazer a Moçambique e da visita de Estado que iriamos preparar para ele em Abu Dhabi para poder conhecer um pouco da Privinvest, fazer o seu due diligence e encontrar-se com a família real”, contou.

Ainda de acordo com o réu, dada a abertura de Guebuza falou-lhe que havia iniciado a negociação com alguém chamado Teófilo Nhangumele, que disse que agia em nome do Presidente da República e que tinha pedido 50 milhões de dólares que seriam partilhados com o Presidente.

“Ele ficou gelado. Perguntou ao Júnior, em português, quem era esse Nhangumele. Ele respondeu que ‘não sei. Foi-me apresentado pelo Bruno Langa’”, contou Boustani. “E ele virou-se para mim e disse: estamos a falar de grandes coisas. Da segurança do país, de armas, de coisas sérias. Ninguém pode levar um centavo, nem um! Qualquer um que pedir [suborno] venha até a mim e diz quem é”, afirmou o empresário.

Entretanto, apesar da orientação de Guebuza, Jean Boustani disse que “ele e Iskandar Safa decidiram que a iriam pagar cinco por cento de todo o projecto da ProInducus a Teófilo Nhangumele e Bruno Langa, pelo papel que estes desempenharam de levar Boustani até ao Ndambi Guebuza e por conseguinte poder chegar ao seu pai, Armando Guebuza”, escreve o CIP na nota, acrescentando que Boustani mostrou ao tribunal ordens de pagamento de 8,5 milhões de dólares para cada um dos dois, totalizando 17 milhões de dólares, que é aproximadamente cinco por cento de 350 milhões de dólares, valor inicial do projecto da ProIndicus.

Ele explicou que este pagamento ao Teófilo Nhamgumele substituiu os 50 milhões de dólares inicialmente solicitados na famosa mensagem “50 milhões de frangos para a minha capoeira”.

Boustani contou que no encontro realizado na Presidência da República, supostamente, a 21 de Janeiro de 2013, Armando Guebuza formulou cinco pedidos a Privinvest: “Contribuir para melhorar a segurança nacional, atrair investimento de Abu Dhabi para todos os sectores e não somente para o sector de petróleo e gás, trazer investimento da Privinvest em muitos sectores em Moçambique, apoiar Júnior a crescer como homem de negócios e apoiar a Frelimo”.

Juiz irritado avisa

Recorde-se que a Frelimo recebeu 10 milhões de dólares em transferências bancárias efectuadas pela empresa Logistics International, do grupo Privinvest.

Na audiência, o juiz revelou alguma irritação, segundo o CIP, com a forma demorada como a defesa tem conduzido as perguntas ao empresário e disse saber como resolver o problema.

“Eu sei bem o que estão a fazer. Eu disse que este julgamento é de seis semanas e esta é a sexta semana. Vai ter que acabar esta semana. Vocês podem escolher entre parar ou continuar a fazer este jogo. E ai eu vos paro. E sei como fazê-lo”, disse o juiz ao dirigir-se ao advogado Michael Schachter, que comanda a inquirição ao réu.

VOA

Author: Redacção

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *