Enchimento de urnas, falso recenseamento e outros ilícitos eleitorais retiraram pelo menos 478 000 votos e 5 assentos da Renamo na Assembleia da República, de acordo com um estudo deste Boletim publicado hoje. Em parte, a investigação baseia-se nos dados da contagem paralela (PVT) do EISA que abrangeu 20 162 mesas de voto espalhadas pelo país.
O estudo constatou cinco espécies de irregularidades e inflação de voto na eleição presidencial:
+Flagrante enchimento de urna, medido através do nível de afluência excepcionalmente alto e elevado número de votos para um candidato, deu a Frelimo mais de 90 000 votos extra. Como em eleições anteriores, nestas as províncias de Tete e Gaza tiveram o maior registo de enchimento de urnas; em cada uma destas províncias, houve enchimento de urnas em larga escala em mais de 20% das mesas de voto;
+Votos extraídos de um candidato através da sua inutilização, ou através da sua inclusão na lista de votos em branco ou nulos retiraram 61 000 votos da oposição. Isto foi muito comum em Tete, Zambézia e Nampula.
+ Aproximadamente 58 000 eleitores votaram para presidente sem, no entanto, terem votado para a AR, mas ninguém terá visto alguém a colocar um boletim de voto apenas numa urna e não na outra. Isto é também enchimento de urna para a eleição presidencial.
+O STAE estabeleceu metas baixas dos eleitores a serem inscritos e um número inferior de brigadas para recensear pessoas na província da Zambézia, o que, segundo estimativas do Boletim, custou à oposição 45 000 votos.
+ O escândalo mais discutido nestas eleições foi a manipulação dos dados do recenseamento em Gaza, onde 1 166 001 eleitores foram registados, número que supera em 329 430 o total da população com idade de votar em Gaza. Eleitores que se registaram, mas não deveriam existir (“eleitores fantasmas”) realmente votaram e, segundo cálculos do Boletim, 161 641 destes fantasmas votaram efectivamente a favor de Nyusi.
+ O círculo eleitoral da Africa do Sul teve um índice elevado de sobre-recenseamento e eleitores “fantasmas”, os quais deram a Nyusi 62 260 votos extra.
Se todos estes eleitores fantasmas e votos falsos fossem excluídos, a Renamo poderia ter ganho 5 assentos adicionais na AR. Trata-se, pois, de uma quantidade enorme de irregularidades que tiveram um impacto considerável nestas eleições.
O Boletim também nota que o estudo apenas identificou espécies de grande transgressão, e sugere ilícitos de pequena escala – poucos votos introduzidos na urna ou pequenas alterações nos editais, podem ter acontecido em muitas mesas de voto e podem ter tido, igualmente, um grande impacto.
Por último, a exclusão de mais de 3000 observadores fez realmente diferença, porque o número de votos a favor de Nyusi foi mais alto em mesas de voto onde não havia observadores.