A Procuradoria Geral da República (PGR) mandou prender na manhã desta quinta-feira, Ângela Leão, a toda poderosa esposa de Gregório Leão, o ex director do SISE que também está preso. Ângela foi presa na PGR depois da acareação com Fabião Mabunda, que era o “pagador” da família Leão. Mabunda foi preso na tarde de ontem, quarta-feira no seu escritório. Assim, já são onze o número de detidos em conexão com as dívidas ocultas.
Quer Ângela Leão assim como Fabião Mabunda eram tidos como fugitivos. Mas Mabunda nunca foi notificado e soube pela imprensa que estava a ser procurado pela justiça. Ângela Leão é quem andava em parte incerta, logo depois que o marido foi preso. Ângela Leão foi a par de Téofilo Nhangumele uma das pessoas que não soube “esconder” o dinheiro das dívidas ocultas. Do dia para noite, passaram a ostentar vidas largas com viaturas de alta cilindrada. Ângela começou não só a comprar casas de forma “louca” mas também a abrir restaurantes. A revista Moz Celeb editada pela Celeb Produções foi uma dessas loucuras com dinheiro fácil. Aliás, a Celeb Produções trouxe até músicos norte americanos aos palcos de Maputo, em negócios muito duvidosos que indiciavam lavagem de dinheiro. Recordam-se do espectáculo do músico 50 Cent? E do Bow Wow? Era tudo obra de Ângela Leão, que nadava no dinheiro da Privinvest.
A acareação feita esta quinta-feira tinha em vista perceber a razão pela qual Fabião Mabunda pagava as avultadas despesas de Gregório e Ângela Leão, que incluíam compra de imóveis luxuosos através da empresa M Moçambique Construções.
A empresa M Moçambique Construções apesar de formalmente detida por Fabião Mubunda e seus familiares, era na verdade de Gregório Leão e da sua esposa Ângela Leão e Mabunda não passa de um testa de ferro que fazia pagamentos de imóveis e viaturas.
A prisão de Mabunda e Ângela Leão pode ser importante para a libertação de Sidónio Sitoe, empresário detido por vender casas à família Leão e foi pago pela empresa M Moçambique Construções. Apesar de Sidónio Sitoe ter provado que só vendeu casas, continua detido porque alegadamente a PGR não conseguia encontrar Fabião Mabunda e Ângela Leão. Recorde-se que no dia 3 de Janeiro, estava prevista uma acareação entre Sidónio Sitoe (que vendeu casas à família Leão), Ângela Leão (que comprou as casas) e Fabião Mabunda (a pessoa a quem Ângela Leão ordenou para fazer os pagamentos).
Ângela Leão não foi à Procuradoria-Geral da República, e, no dia 15 de Fevereiro, Sidónio Sitoe foi preso.
Sidónio Sitoe está preso, na Cadeia Central, em conexão com a fraude das dívidas ocultas e pode estar a ser vítima da falta de critério dos investigadores da Procuradoria-Geral da República. Efectivamente, Sidónio Sitoe não fez mais nada senão vender casas a Ângela Leão, esposa de Gregório Leão, ex-director do Serviço de Informação e Segurança do Estado, que também está detido.
O mais estranho no caso de Sidónio Sitoe é que o mesmo provou com documentação e transferências que apenas vendeu os seus imóveis, um negócio que já fazia mesmo antes do pandemónio das dívidas.
Tal como o “Canal de Moçambique” informou na semana passada, Sidónio Sitoe recebeu dinheiro das dívidas ocultas no valor de 63,3 milhões de meticais. Como? Vendeu as suas casas na Ponta do Ouro e na cidade de Maputo à família Leão, mais concretamente a Ângela Leão.
Os pagamentos foram feitos pela empresa “M Moçambique Construções”, uma empresa formalmente detida por Fabião Mabunda, mas que serve como testa-de-ferro à família Leão, tanto mais que é a partir das contas dessa empresa que eram ordenados os vários pagamentos. Essa empresa recebia dinheiros directamente das empresas ligadas à “Privinvest”.
Numa das ocasiões, Ângela Leão enviou dinheiro a Sidónio Sitoe de uma casa em que ele estava a morar, como sinal de interesse pela mesma. Sidónio Sitoe devolveu o referido dinheiro porque não estava interessado em vender essa casa. Mas, quando o assunto chegou à Procuradoria-Geral da República, Ângela Leão, chamada em contraditório, negou que tenha feito com Sidónio Sitoe negócios de tal natureza.
Quando foi comunicado a Sidónio Sitoe que Ângela Leão, em contraditório, negou que tivesse feito negócios com ele, este exigiu que fosse feita acareação com os três, ou seja, ele próprio, Ângela Leão e Fabião Mabunda, de modo a que Ângela Leão negasse à sua frente e onde seriam apresentadas todas as transferências e toda a documentação.
Mesmo assim, Sidónio Sitoe apresentou outros papéis a provar que o dinheiro que recebera era da venda das casas. Sidónio Sitoe mostrou aos investigadores todas as casas que vendeu à família Leão, em Maputo e na Ponta do Ouro, e disse aos procuradores que estava disponível para esclarecer qualquer situação, porque era do seu interesse que o assunto ficasse esclarecido.
Outro dado relevante é que as referidas casas foram alugadas a terceiros, e quem recebe o dinheiro das rendas é a família Leão, como nova proprietária dos imóveis. No caso do imóvel situado no Bairro Triunfo, Ângela Leão até contribuiu com os restantes moradores para a pavimentação da rua, logo que adquiriu o imóvel, questionando-se a razão da manutenção da situação de reclusão de Sidónio Sitoe, visto que o seu caso é igual ao da Neuza Matos, que vendeu casa a Renato Matusse e foi paga pelo dinheiro das dívidas.
No caso de Sidónio Sitoe, o dinheiro veio de uma empresa moçambicana (que recebeu da “Privinvest”) controlada pela família Leão, ao passo que Neuza Matos recebeu directamente da “Privinvest”.
No negócio das compras das casas, Ângela Leão fazia-se representar pela sua advogada, de nome Virgínia. A única advogada inscrita na Ordem dos Advogados com o nome Virgínia, é Virgínia Cossa.
É de salientar que, no longo processo que o “Canal de Moçambique” tem na sua posse, há vários empreiteiros (moçambicanos, turcos e portugueses) que venderam casas, algumas delas a preços sobreavaliados, e nenhum deles está detido, o que provavelmente deveria acontecer, se fossem seguidos os mesmos critérios que levaram à detenção de Sidónio Sitoe.
Entretanto na RAS Manuel Chang foi preso pela segunda vez hoje, na sequência do mandado de captura emitido pelo Tribunal Supremo, criando-se assim mais espaço para uma a discussão da extradição pedida por Moçambique.
(Canal Moz)