A 03 de Março de 2015, estava eu numa clínica para uma consulta de rotina. Recebi uma mensagem de Moçambique e tive curiosidade em lê-la naquele momento. Dizia que acabavam de assassinar o constitucionalista Giles Cistac, na Avenida Eduardo Mondlane, em plena luz do dia.
Fiquei destroçado, apesar de nunca o ter conhecido pessoalmente. O pouco que sei dele foi através da imprensa e outras leituras. Sei que era um indivíduo frontal e que não tinha medo de expor as suas ideias. E foi abatido como cão!
Esta semana passam três anos após o seu assassinato. Recordo-me que poucos dias depois do seu assassínio, a polícia e a Procuradoria disseram à boca cheia, que já havia suspeitos. Era tudo treta. Era simplesmente para desviar atenções. Quem até aqui duvida que os esquadrões da morte são comandados pela Procuradoria-Geral da República (PGR)?
E cá estamos neste chove não molha. Inácio Dina, porta-voz da PRM, disse que a corporação não tem mais nada a declarar, pois cabe ao Ministério Público (MP) declarar qualquer coisa a esta altura, em respeito às fases processuais. Está sacudido o capote…
Está tudo nebuloso. Não se sabe se existem suspeitos detidos ou se o processo, como sempre, foi arquivado. E foi mesmo arquivado, as minhas fontes nunca mentem!
Não restam dúvidas de que houve motivações políticas para o seu assassinato. As autoridades competentes, com realce para a Procuradoria, não fizeram o mínimo de esforço para investigar este macabro assassínio. Aliás, como haveriam de fazer se sabem quem está por detrás deste e tantos outros crimes?
Em abono da verdade, meus caros, o MP se quisesse investigar teria tido abundante material: o crime foi praticado à luz do dia, em hora de muita movimentação, a zona também é movimentada. Como é possível que ninguém haja visto nada? Lembrem-se, não existe nenhum crime perfeito.
Ademais, que abuso é esse de um mero criminoso assassinar alguém à luz do dia e em pleno público? Não tem medo das consequências? Que garantias tinha de que não iria ser preso ou mesmo linchado? Isto tudo responde ao que sempre tenho dito: os esquadrões da morte, comandados pela Procuradoria, é que assassinaram Cistac e fizeram-no a vontade porque sabiam que as ordem foram imanadas de lá de cima da Procuradoria . Têm protecção total.
E neste andar, não será de admirar se Beatriz Buchili um dia for confrontada com a letargia de investigar este processo dizer que o mesmo foi endossado ao Tribunal Administrativo, como foi feito com o das dívidas ocultas.
E é com muita pena que, em Moçambique, tenhamos uma imprensa de faz de contas. Limita-se a fofocas. Ou a chantagear pessoas. Assuntos concretos que mexem com a nação não são levados ao extremo. A imprensa, desse modo, é cúmplice de tudo isto. Não denuncia. Não critica. Lambe as botas do poder político só para ganhar uma viagem ao exterior com o Presidente.
Uma imprensa comprometida com a verdade nunca está à boleia do poder político!
Lá se vai o tempo em que havia jornalistas verdadeiramente comprometidos com a profissão. Hoje qualquer um é jornalista. Pode ser um cantor de “Pandza”, vendedor ambulante…até as senhoras que vendem amendoim. Ninguém está comprometido com a profissão. A lógica é sobrevivência. O jornalismo é uma sapataria. Aceita qualquer aprendiz. Quem disse que cozer sapatos é difícil?
E temos tantas escolas superiores a leccionarem curso de jornalismo, mas parece que as coisas pioraram. Nenhuma dessas míseras escolas é capaz de parir um Migueis Lopes Júnior. São formados vassalos, lambe-botas, aduladores. É só ver o debate político difundido pela RM às quartas-feiras à tarde. É tudo farinha do mesmo saco. Só lambe-botas.
Um manguito para os analistas políticos de ocasião. Analistas de estômago. Penduram-se onde há fartura só para satisfazerem interesses mesquinhos e individuais. O bem comum que se dane. Acham que Moçambique um dia vai marchar com estes parasitas?
Nini Satar