“O meu pai morreu a tentar consertar um país que não tem conserto”
O desabafo da filha de Gilles Cistac no dia do aniversário do pai
Rosimele Cistac, a filha de Gilles Cistac, constitucionalista franco-moçambicano, escreveu uma mensagem com uma alguma carga emocional no dia em que, se o pai fosse vivo, completaria 56 anos.
A trajectória de vida de Gilles Cistac foi interrompida numa manhã, em frente ao Restaurante “ABFC”, na Av. Eduardo Mondlane, na cidade de Maputo, por indivíduos até agora desconhecidos.
No sábado, dia 11 de Novembro, Rosimele Cistac recorreu à rede social Instagram para lembrar o seu pai. No seu texto publicado naquela rede social, Rosimele Cistac diz que o pai foi assassinado porque dizia o que muitos não têm coragem de dizer. Diz que o pai foi assassinado por tentar consertar um país que não tem conserto.
“Hoje é o aniversário do meu pai. Hoje meu coração dói, porque a única pessoa na minha vida que nunca me rejeitou, julgou, ou me tratou mal, foi morto”, escreveu Rosimele Cistac na sua conta na rede social Instagram. “Ele foi baleado”, continua a filha de Gilles Cistac e, a seguir, pergunta: “Porquê?” “Porque ele tentou dizer ao mundo o que muitas pessoas tinham medo de dizer”, prossegue Rosimele Cistac e acrescenta: “Ele tentou consertar um país que não pode ser consertado.”
No texto de Rosimele publicado no Instagram pode ler-se ainda: “Hoje estou chorando sozinha, porque não consigo ver esse sorriso e ouvir sua voz encorajadora… eu posso gritar o quanto eu o amo, mas não consigo ficar com os olhos dele hoje”.
Termina o seu texto dizendo: “Eu sinto vontade de morrer. Porque a única pessoa por quem vale a pena viver, morreu nos meus braços”.
Gilles Cistac perdeu a vida no Hospital Central de Maputo, a escassos metros do local onde foi baleado.
Na altura, o director clínico do HCM, João Fumana, informou: “As balas apanharam o tórax e a parede abdominal”. Gilles Cistac morreu durante a intervenção cirúrgica que estava a ser realizada.
Antes do assassinato, Gilles Cistac foi vítima de uma campanha de diabolização e de assassinato de carácter executada por indivíduos ligados ao famigerado G40.
Uma semana antes do assassinato, Gilles Cistac disse que ia processar um inidivíduo que, através do Facebook e com o pseudónimo “Calado Kalashnikov”, o acusou de ser um espião francês que obteve a nacionalidade moçambicana de forma fraudulenta.
Gilles Cistac denunciou que estava a receber ameaças de pessoas que se diziam do partido Frelimo e que o acusavam de ser assessor jurídico da Renamo.
Em resposta, Gilles Cistac apresentou uma queixa à Procuradoria-Geral da República, por considerar que estava a ser vítima de intolerância política.
Até hoje, nada se sabe sobre os autores morais e materiais do assassinato de Gilles Cistac. A Polícia, como sempre, “continua a trabalhar”. (André Mulungo)
CANALMOZ – 14.11.2017