O consórcio liderado pela gigante norte-americana ExxonMobil, na Área 4 da bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, adiou a tomada de Decisão Final de Investimento (DFI), alegando questões de segurança neste ponto do país.
A DFI na Área 4, da bacia do Rovuma sofreu um revés. Quando tudo indicava para uma Decisão Final de Investimento, primeiro entre Janeiro e Março de 2019 e posteriormente Julho do mesmo ano, eis que os operadores desse bloco decidiram por recuar.
A insegurança que se regista em Cabo Delgado (ataques de insurgentes) é apontada como o factor que terá influenciado o recuo do consórcio liderado pela ExxonMobil, responsável pelas actividades de construção e operação das unidades de Gás Natural Liquefeito (GNL) e infra-estruturas relacionadas em terra, enquanto a italiana Eni, lidera as actividades de construção e operação das instalações de produção no mar, incluindo o projecto de fábrica flutuante de gás natural liquefeito (FLNG Coral Sul).
Entretanto, o revés na DFI neste depósito de gás do Rovuma, é desdramatizado pelo Presidente do Conselho de Administração (PCA) da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), firma estatal que detém 10% da área.
“São os vários fluxos de trabalho que tem a ver com a venda, financiamento. Não significa que tudo está parado. Apesar da FID (DFI, em português) não ter sido feita, o trabalho está acontecer. Entretanto, trata-se de uma forma de formalização apenas”, argumentou Omar Mithá.
Sobre as alegações de insegurança em Cabo Delgado, o PCA da ENH reconheceu tratar-se de um factor crítico. “Já há um entendimento. O Governo está a trabalhar no sentido de acabar com essas incursões de malfeitores e não posso dar mais detalhes a este respeito”, referiu.
Recorda-se, que no ano passado, o Governo “chumbou” o primeiro draft do Plano de Desenvolvimento do gás da bacia do Rovuma, apresentado pelos operadores da Área 4, devido a algumas lacunas identificadas no documento.
Na altura, e em exclusivo ao “O País”, o Presidente do Conselho de Administração do Instituto Nacional de Petróleos (INP), Carlos Zacarias, explicou que o plano de desenvolvimento do projecto de gás na área 4, da bacia do Rovuma, apresentado pelas petrolíferas em Julho de 2018, violava uma série de requisitos, no entanto, não especificados.
Da constatação feita pelo “O País”, um dos grandes pontos de discórdia prendia-se com a quantidade do gás a ser explorado. Dados que tivemos acesso, a área 4, o consórcio ExxonMobil e Eni necessita de 21 a 22 triliões de pés cúbicos (TCF) de gás para alimentar o seu projecto.
Desta quantidade, 5 TCF viriam do complexo Coral Sul, sendo que o complexo Mamba varia entre 16 a 17 TCF para completar a quantidade total necessária. Porém, o limite autorizado para estes depósitos é de 12 TCF. Na altura, as petrolíferas rebateram que o projecto será era viável com a quantidade por elas exigida.
Depois de um longo período de negociações, em Maio de 2019, O Conselho de Ministros acabou por aprovar o Plano de Desenvolvimento do Projecto Rovuma LNG, que prevê o desenvolvimento inicial autónomo e coordenado de 12 triliões de pés cúbicos de gás natural na Área 4 da Bacia do Rovuma, ou seja, o Executivo de Maputo não cedeu a pressão das petrolíferas.
A aprovação deste plano, vai permitir a liquefecção e comercialização de recursos do depósito do complexo Mamba e não-transzonais localizados na Área 4, a partir de 2024, bem como a construção, instalação, utilização de poços, sistemas de produção e controlo submarinos, linhas de escoamento, tratamento terrestre de gás natural para fornecer a dois módulos de liquefacção, armazenamento e o carregamento de Gás Natural Liquefeito (GNL), com capacidade total de 15,2 milhões de toneladas por ano (MTA/ano).
No mesmo mês, ou seja, uma semana após aprovação deste documento, o Conselho de Ministros aprovou igualmente o decreto que chancela os termos e condições para a viabilização do projecto.
Trata-se de um decreto que determina o limite e/ou partilha dos depósitos de gás e petróleo nas áreas 1 e 4.
“O objectivo é permitir a construção, instalação e utilização de poços submarinos, sistema de produção e controlo submarinos e linhas de escoamento e tratamento terrestre do gás natural”, explicou na altura, Ana Comoana, porta-voz do Conselho de Ministros.
Ainda mesma sessão, o Executivo aprovou a resolução que viabiliza o acordo de unificação e operações da unidade, celebrado entre as concessionárias da Área 1 e da Área 4, na bacia do Rovuma, a 23 de Novembro de 2015.
Ao abrigo desse acordo de unificação, determinou-se ainda o fornecimento de 500 milhões de pés cúbicos de gás natural para o mercado doméstico.
Refira-se, que o consórcio da Área 4 prevê um investimento de cerca de 23 biliões de dólares norte-americanos, sendo que à boleia deste bilionário projecto de GNL, com a produção prevista para entre 2023 e 2024, o Governo espera encaixar perto de 46 biliões de dólares norte-americanos em receitas.
O País