O filho do ex-presidente Armando Guebuza, Mussumbuluko de seu nome, está a enfrentar um dilema: ele deve salários a 27 trabalhadores da extinta Direção de Operações do seu grupo empresarial, a Msumbiji. Em Fevereiro deste ano, Mussumbuluko decidiu rescindir unilateralmente com os trabalhadores, tendo-lhes garantido que pagaria uma indemnização. Na semana passada ele encaixou 17 milhões de Meticais da Aggreko e zarpou para o Bilene, onde goza sol e praia.
Em Fevereiro, ele decidiu desfazer-se dessa massa laboral mas não pagou o que prometeu: uma indemnização. Oito meses depois, os visados continuam sem ver um tostão. Os homens procuraram pressionar de várias formas, mas Mussumbuluko é tido como não estando a atender. Uns preferiram então intentar uma acção judicial, aguardando agora que os tribunais resolvam o diferendo. O advogado da Msumbuiji, Isálcio Manhanjane reconheceu que a empresa está em dívida com os trabalhadores mas diz que isso decorre do fim do contrato com uma operadora de telefonia móvel, para quem a empresa prestava serviços.
Na segunda-feira, Mahanjane disse à “Carta” que havia uma luz no fundo do túnel, pois esperava receber até quarta feira parte dos valores de uma alegada dívida dessa empresa para com a Msumbiji. Isso serviria para pagar parte das indemnizações, praticamente correspondentes a 8 meses de salários. Mas, ontem, Mahanjane não nos atendeu às chamadas por telefone. Os trabalhadores também não viram vivalma dos dinheiros prometidos para que seus natais sejam condignos.
O caso promete arrastar-se. Mas, com isso, o nome e a imagem do clã Guebuza vai estar de volta às parangonas por motivos pouco dignos. Não pagar aquelas indemnizações parece ser uma opção de postura. Trata-se de uma folha salarial de cerca de 900 mil Meticais/mês, pouco mais de 14 mil USD/mês, pouco mais de 106.000 USD no global. Isto se o diferendo for resolvido já, pagando e evitando outros cálculos decorrentes das acções judiciais.
Mussumbuluko Guebuza é o filho do ex-Presidente Armando Guebuza que se revelou um aficionado por armas de guerra. Quando o pai estava no poder, ele participou de processos de procurement militar, posando com fornecedores de armas, de metralhadoras em riste. Com proteção paternal, sua empresa estava de vento em popa. A Msumbiji surgia sempre em notícias de novas venturas empresariais com marca de arrojo e génio empreendedores. Mas os contratos eram ganhos porque sua sombra paternal estava sempre presente onde a Msumbiji se oferecia para trabalhar.
Foi assim que ganhou o contrato relevante para esta matéria: o fornecimento de serviços de instalação, manutenção e reparação de grupos geradores de cerca de 350 torres de telefonia móvel de uma das operadoras, nas províncias do sul de Moçambique. O negócio começou a ser pensado em finais de 2014. A Msumbiji criou uma subsidiária a qual chamou de Mcom, para com ela atacar um nicho no sector das telecomunicações, mormente na área de fornecimento de serviços de manutenção. O contrato com a operadora de telefonia viria a ser celebrado com a Msumbiji, e não com a Mcom. A empresa estabeleceu uma Direção de Operações, em Tchumene, na Matola.
A partir do início de 2015, os trabalhos começaram. No sul do país, a Msumbiji monitorava a operacionalidade dos geradores em todas as torres dessa telefonia móvel. Fazia intervenções de rotina e reparação de avarias. Em suma, tinha de garantir que os geradores que alimentam as torres funcionavam plenamente. Os lugares deviam estar igualmente limpos de qualquer erva daninha.
De acordo com uma fonte da empresa, falando sob anonimato, a Msumbiji facturava apenas dessa operadora cerca de 7 milhões de Meticais numa média mensal. E as facturas eram pagas. Até Dezembro de 2017, os trabalhadores receberam todo o seu quinhão. Os salários por inteiro. Mas em Janeiro chegou a má nova: a Msumbiji, alegando problemas de tesouraria, comunicou que iria rescindir unilateralmente com todos os 27, com efeitos a partir de Janeiro, informando que ia pagar uma indemnização. O vínculo laboral com os visados era por tempo indeterminado. Todos foram para casa em finais de Janeiro, mas a Msumbiji nunca acionou definitivamente tal rescisão em termos legais e nunca pagou nenhuma indemnização. Durante estes 8 meses, e depois de alguma pressão, o salário de Fevereiro foi pago. E apenas isso.
Agora, eles se consideram extremamente lesados. E dizem-se ainda trabalhadores da empresa e, por isso, não podem assumir novos empregos pois, alegam, isso fa-los-ia perderem seus direitos adquiridos na Msumbiji. Na verdade, tal “indemnização” é um eufemismo para dizer 8 meses de salários atrasados. Na conversa que manteve connosco, o advogado Mahanjane reconheceu que a Msumbiji estava em dívida para com os 27. Mas ele vestiu uma personagem de vítima, atirando à empresa de telefonia móvel a culpas por uma alegada dívida. Ele garantiu que as duas empresas estavam a fazer um encontro de contas para sanear os valores em causa.
Seja como for, a Msumbiji anda agora nas ruas da desventura. Sua aparição no sector empresarial moçambicano foi, no entanto, meteórica. Com Guebuza no poder, conseguiu um sólido contrato de “assistência técnica” com a Aggreko, uma multinacional que gere uma central de produção de energia com base no gás de Temane, a partir de Ressano Garcia, fornecendo à EDM, à Eskom e à Nampower, a eléctrica da Namíbia.
Não são claros os serviços que a Msumbiji presta à Agrekko, havendo indicações de que se trata de um contrato para encobrir uma “comissão” anual à Mussumbuluko por ele ter influenciado o pai para que aquela firma conseguisse o negócio do gás em Ressano. Na semana passada, Mussumbuluko recebeu da Aggreko 17 milhões de Meticais e zarpou para o Bilene, onde se encontra a veranear. Uma fonte disse que, se ele quisesse, já teria pago as dívidas em falta. Para operar uma central de gás no Ressano, a Aggreko arrumou contratos de parceria com a Matola Gás Company e com a Gigwatt, empresas ligadas a conhecidas figuras da elite política local. Uma fonte disse que a Msumbiji encaixou muito mais milhões ao longo deste ano.
Para além de ser filho de Armando Guebuza, Mussumbuluko revelou alguns traços de sua personalidade ao se deixar fotografar com armas de grande calibre numa sessão de compra de equipamento militar para o exército. Controverso foi também o negócio da implantação de centenas de câmaras de vídeo vigilância nas cidades de Maputo e da Matola, com o objectivo de monitorar os cidadãos. As mais de 400 câmaras de vídeo vigilância foram instaladas por uma empresa chinesa, em parceria com a Msumbiji, num negócio apadrinhado directamente pelo ex-Presidente Armando Guebuza. O caso, como dissemos, promete. A Msumbiji tem processos a correr contra si em tribunais. Dois bancos já foram citados mas Mussumbuluko terá aberto recentemente uma nova conta no Banco Único, onde concentra agora suas finanças, alegadamente para fugir à justiça.
(Marcelo Mosse)