Moçambique deve formar mais electricistas, carpinteiros, soldadores do que engenheiros

O reitor da A Politécnica considera que a instituição escolar do país necessita formar mais electricistas carpinteiros, soldadores do que engenheiros, igualmente poucos

O segundo grande fórum MOZEFO proporcionou, hoje, no Centro de Conferências Joaquim Chissano, um debate sobre “O capital humano e a economia do conhecimento”. Para o efeito, participaram no painel quatro oradores, nomeadamente, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Baloi; o antigo Presidente do México, Vicente Fox; o reitor de A Politécnica, Narciso Matos; e a Fundadora da Global Ecovillage Network, Kosha Joubert.

Dissertando sobre o tema do debate, todos os oradores concordaram que um óptimo capital humano resulta, necessariamente, do investimento na formação e na instrução. Como o país não possui uma boa educação pública para os cidadãos, Narciso Matos, na qualidade de professor que é, defendeu a tese de que Moçambique atravessa um momento em que deve, como no passado, fazer escolhas igualmente difíceis, o que implica corrigir o sistema de educação.

O reitor da A Politécnica considera que a instituição escolar do país necessita formar mais electricistas carpinteiros, soldadores do que engenheiros, igualmente poucos, e evoluir de forma equilibrada. Tal equilíbrio não existe porque, avança Matos, na transição de vários níveis académicos a escola perde muitos talentos.

Narciso Matos é apologista da ideia de que todos os moçambicanos têm direito à educação, mas uma boa educação. Já que esse não é o caso, o académico entende que é altura de Moçambique parar e reflectir, sem demagogia, sobre o capital humano, porque é indispensável uma escola capaz de transformar a vida das pessoas, consciente de que, mais importante que formar técnicos, é formar pessoas comprometidas com o bem-estar dos moçambicanos. Nesse sentido, a aliança entre governos e instituições e os financiamentos são importantes. Por isso mesmo, Matos questionou se o orçamento para educação é suficiente. Tudo isto é crucial para que tenhamos “uma educação que permita aos estudantes, depois de graduarem, estarem preparados para produzir”, afirmou o reitor.

Ainda sobre a educação, Narciso Matos disse que o país não tem tido um debate robusto, “por isso estamos como estamos. Como Estado, devíamos desejar ter algumas instituições educacionais que fossem farol para o país, uma ou duas públicas que representassem o que queremos, que funcionassem como viveiros para puxar as outras. Ao invés disso, continuamos a esvaziar as universidade públicas que temos, que não chegam a ser boas, e muito menos farol. O mesmo para o secundário. Como chegamos ao ponto de não poder dizer que pelo menos temos 11 escolas de referência, a nível nacional? Como é que quando pensamos na escola com qualidade não visualizamos as públicas, mas privadas? Temos que investir numa educação séria. Isso não ganha votos nas próximas eleições, mas cria viveiros que precisamos para o país”, explicou Narciso Matos.

No painel moderado pelo jornalista Jeremias Langa, Vicente Fox também interveio. O antigo Presidente do México disse que o desenvolvimento humano e social depende da distribuição do conhecimento. Para Fox, quanto mais educação se tiver, mais certo é o progresso e acesso à felicidade. “As pessoas devem se preocupar com a educação para toda a vida”, afirmou.

Vicente Fox defendeu que uma pessoa com alto rendimento gera-se com outros factores, por exemplo, que consistem em compreender o funcionamento do cérebro. “Preocupemo-nos em preparar os cidadãos que procuraram a educação, com objectivo de resolver as coisas mais complicadas”.

A única oradora do painel, Kosha Joubert, começou por apreciar as características naturais do país, dizendo que Moçambique é um dos mais belos de África, com património cultural rico. Depois disso, questionou? Que tipo de educação é necessário para um país assim? Joubert é defensora de que o país deve trabalhar com as pessoas que têm conhecimento nas comunidades, unindo-se a ciência a outros saberes, mesmo porque, actualmente, para a oradora, está-se a perder muito conhecimento tradicional.

Sobre as fragilidades da educação, Oldemiro Baloi não vê no número de universidades um problema, mas o tipo de universidades e com que critérios essas instituições são escolhidas por estudantes e encarregados de educação. “Muitas vezes, eles escolhem a universidade que garante o diploma apenas. Assim, ficamos com muitos graduados sem conhecimento”.

Não obstante, parte significativa das lideranças do sector privado surgem do público, o que revela que a escola ainda forma com qualidade. O que é preciso, para Baloi, é motivar o quadro a ficar no seu lugar e a reter os outros. Nisso, o Estado deve garantir um sistema em que o mérito seja valorizado. No fim, rematou: “Num país como nosso, sendo importante a retenção de quadros, é mais importante a elevação de vidas dos mais desfavorecidos e os quadros devem compreender isso”.

 

O País

Author: Redacção

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