“Senhor ministro: esta carta é de um indignado. Estamos ou não em crise?
Quer dizer, decidiram, de uma vez por todas, acabar com Moçambique?
Sabem que por vossa causa pronunciar, noutras paragens, de que sou moçambicano sabe a fel?
Moçambique é conhecido como um país de caloteiros, de promiscuidade, de compadrio, de corrupção… graças aos sucessivos Governos que temos.
Que dignidade confere a si um Mercedes Benz topo de gama? O que o senhor ministro vai inventar para o bem de Moçambique só porque anda numa viatura de luxo?
O dólar voltará aos 30 meticais? E o rand?
Sabe, senhor ministro, aqueles senhores a quem pedimos sistematicamente dinheiro para o Orçamento do Estado, usam viaturas quaisquer.
Não são de luxo. Andam, muitos deles, daquele Audi antigo. E nós queremos viaturas que nos confiram dignidade! Somos ou não pedintes?
Quer dizer, faço-me transportar por um Mercedes Benz (da última série) para ir pedir dinheiro para a compra de um saco de arroz a quem conduz um Peogeot 504? Como é que espero que essa pessoa me leve a sério? Afinal, o que é um mendigo? Talvez no vosso idioma governamental deve ser o que vive na fartura. Um mendigo vai à rua grifado para pedir pão?
Não estamos a fazer nenhum esforço para provar aos doadores internacionais de que aprendemos a lição.
Enterramo-nos cada vez mais. Acho que gostamos da lama. Do cheiro nauseabundo. De feder.
No fim os doadores riem se de nós.
O julgamento da senhora do FDA, Setina Titosse, os salários astronómicos dos administradores da EDM, é a antecâmara do que acontece no Governo. O povo chora enquanto o Governo dança o fandango. Quem alimenta o forrobodó da Frelimo? Donde é que tiram esse dinheiro se estamos em crise? Quer dizer, a crise é para o povo, o Governo está na lua.
Eu lhe tinha como uma pessoa ilibada, senhor ministro. Acho que o ter aceite fazer parte deste Governo só lhe fez perder pontos.
Não me vai dizer que o culpado em certas decisões não é o senhor. Se não concorda com elas, demite-se. É assim que se preserva a dignidade de um homem.
Foi o senhor ministro quem anunciou a austeridade. O senhor é que disse que os tempos em que vivemos são amargos e todos nós, sem exclusões, devemos apertar o cinto. Afinal estava a dizer para o povo apertar o seu enquanto vocês se lambuzam?
A pouca credibilidade que Moçambique tem, parece que não vos interessa. Fazem questão de jogar lama em tudo. Doador nenhum há-de sentir pena de corruptos, promíscuos.
Sinceramente, estou desapontado com este Governo e, sobretudo, com o senhor ministro a quem tinha maior consideração.
E o que disse o Secretário Permanente do Ministério das Finanças é mentira. Até aonde chegamos?! Mentir ao povo…”
Nini Satar