Daviz Simango, presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), disse, em entrevista concedida ao SAVANA, na cidade da Beira, que para devolver a confiança à sua figura bem como do seu Governo o Presidente da República (PR), Filipe Nyusi, devia demitir imediatamente o Primeiro-ministro (PM), Carlos Agostinho do Rosário e o ministro da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, porque ocultaram dados sobre as dívidas ocultas e mentiram ao país.
Diz que o comportamento dos dois governantes levou o Estado moçambicano ao descrédito, facto que o torna o país muito mais frágil. Simango lamenta a forma como Nyusi está a gerir a questão da tensão político–militar bem como a dívida pública e que a morosidade do PR está a levar o país ao abismo e deixar o grosso da população moçambicana na penúria. Diz ainda que com Filipe Nyusi a intolerância política teve tendências de se agudizar e a justiça age com o som do batuque. Olhando para o seu partido, o nosso entrevistado diz que está num bom caminho e cada vez mais uno e indivisível. Nas linhas abaixo segue a entrevista que resume os sete anos do MDM e a situação política e económica do país.
As desinteligências no seio da Renamo culminaram com a criação do MDM em 2009. Sete anos depois, como é que avalia a organização?
O MDM é um partido novo na esfera política moçambicana. Porém, isso não se nota porque somos uma organização seriamente activa e empenhada. Como resultado desse trabalho, conseguimos, em pouco tempo, ultrapassar as barreiras da bipolarização política em Moçambique. O MDM foi criado com objectivo claro de participar na vida política do país.
Por isso, pouco tempo depois da sua constituição, tomou-se a decisão de ir às eleições gerais mesmo dentes da magnitude do desafio e da fraca preparação, comparativamente com os nossos adversários. Entrámos no desafio eleitoral de 2009 porque, como políticos, entendemos que era preciso apresentar ao povo aquilo que era o nosso programa de governação, que por sinal foi bem acolhido. Veja que mesmo com os contratempos criados pela coligação Frenamo, visando fragilizar-nos, o MDM conseguiu quebrar a bipolarização política e surgiu a terceira bancada na Assembleia da República (AR). Dois anos depois, em 2011, fomos às eleições intercalares e conquistámos o município de Quelimane.
Em 2012 concorremos na eleição intercalar de Inhambane e, com muito privilégio, conseguimos aquilo que a oposição no seu todo nunca tinha atingido. Conquistámos 30% dos votos, o que é bastante positivo. Também é importante realçar que em 2012 realizamos, com sucesso, o nosso primeiro Congresso. Em 2013 entrámos na corrida autárquica, concorremos em todos os municípios e ganhámos em quatro, para além de termos conseguido assentos nas assembleias municipais de 51 autarquias de um total de 53.
Na senda do nosso comprometimento com a democracia, em 2014, participamos nas eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais. Como todos sabem, as eleições de 2014 foram atípicas. Vimos a Polida de Intervenção Rápida a assumir todo o protagonismo, a Frelimo e a Renamo a exibirem a sua pujança belicista e a se assumirem como donos do processo, tudo com o objectivo de sufocar o MDM. Contudo, mesmo debaixo dessas adversidades, conseguimos duplicar o número de assentos no parlamento nacional e nas assembleias provinciais. Estas conquistas mostram a maturidade que o partido conseguiu e deixam claro que estamos num bom caminho.
Na sua óptica, que mais-valia o MDM trouxe para a democracia moçambicana?
É bom lembrar que durante muito tempo debate político se resumia apenas na Frelimo e Renamo. Hoje, as coisas inverteram-se. O debate alastrou-se para três forças. O MDM trouxe uma nova forma de fazer política e não usa armas para fazer vincar suas ideias. Não se dispara tiros e não sacrifica vidas humanas para se evidenciar, reivindicar ou perpetuar o poder. Na AR, os seus deputados nunca pautaram pela deselegância e despudor nos debates, tal como acontece com as outras duas bancadas. Ao contrário dos deputa dos da Frelimo e da Renamo que passam o tempo a discutir questões marginais e inúteis para o país, os eleitos do MDM preocupam-se com o país, procuram trazer propostas que possam conduzir à solução dos problemas e melhorar a vida do povo. Sempre vão à busca da tolerância e reconciliação. A outra mais-valia que o MDM trouxe foi mostrar ao país e ao mundo como é que se governa. São notáveis nos quatro municípios sob gestão do MDM os altos níveis de transparência, boa gestão da coisa pública e uma governação centrada no cidadão.
A história política moçambicana sempre foi associada às armas. É dos tiros que a Frelimo e a Renamo fazem a sua política. Sendo um partido civil, como é que o MDM consegue se impor num meio altamente belicista como o nosso?
É preciso acreditar na sabedoria humana e nós temos explorado muito esse potencial. Não é preciso violência para conquistar algo. O MDM vai ao encontro dos eleitores, dialoga, procura perceber suas inquietações, apresenta suas ideias e propostas para a superação das preocupações apresentadas. A lógica moderna mostra que a política deve ser feita na base de ideias e não da força. Enquanto as armas destroem e deixam sequelas, as ideias moldam-nos para o melhor. Em todos os processos eleitorais, o MDM é o partido que mais sente a intolerância política dos adversários, os seus membros são perseguidos, violentados, detidos e até assassinados, mas as conquistas são visíveis, O MDM está a trazer um novo paradigma na política moçambicana de que é possível governar sem armas.
“A nossa democracia é de fachada” Como é que o MDM define a democracia, e, nos termos dessa definição, acha que está a ser devidamente materializada no país?
Para o MDM, a democracia é um direito consagrado na Constituição e que deve ser usufruído por todos os moçambicanos, O MDM aparece para implementar aquilo que a Constituição chama de Estado de Direito Democrático.
Em outras palavras: Moçambique goza da democracia que o MDM sonha?
A nossa democracia não é eficiente. Ela tem de ser construída e nós, como moçambicanos, temos de olhar os problemas pela frente e enfrentá-los. Não podemos dar costas aos nossos problemas.
Fonte: Jornal Savana