QUEDA DO METICAL PIORA SITUAÇÃO ECONÓMICA DE MOÇAMBIQUE

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A depreciação da moeda nacional, aliada à descida da reserva de divisas, está a acelerar a deterioração da economia já precária de Moçambique. E os analistas avisam que o pior ainda está por vir.

Desde janeiro, o valor do metical caiu em mais de 70% em relação ao rand sul-africano e em quase 50% em relação ao dólar norte-americano.

Para os moçambicanos, a braços com instabilidade política por causa do conflito entre o maior partido da oposição, a Resistência Nacional Moçambicana, RENAMO, e o Governo, e no meio de uma crise económica desencadeada pela queda do valor de matérias primas no mercado mundial, a depreciação do metical é mais um fator que vem dificultar muito a vida ao cidadão comum.

A razão principal para a desvalorização galopante da moeda moçambicana é a incerteza dos mercados financeiros sobre a capacidade do país de amortizar a dívida pública.

A falta de confiança dos credores resulta em grande parte de erros evitáveis, como a ocultação de dívida pública aos países doadores.

Charlotte King, economista do centro de pesquisa britânico Economist Intellgence Unit (EIU), lembra, no entanto, que o problema tem raízes mais profundas.

Erros políticos e problemas estruturais 

Já no ano passado, o metical se encontrava sob pressão crescente, porque “Moçambique tem défices fiscais e de conta corrente muito grandes, para além de ter acumulado um deficit enorme da balança comercial nos últimos anos”.

A especialista lembra ainda a seca que obrigou à importação de alimentos pagos com dólares: “Portanto trata-se de uma mistura de factores do mercado e problemas estruturais da economia”.

Por detrás dos termos técnicos está o sofrimento crescente da população. Os bens de consumo básico que têm que ser importados são cada vez mais caros e ficam fora do alcance de muitas bolsas. A insegurança alimentar afeta centenas de milhares de moçambicanos, sobretudo no sul do país.

Um ciclo vicioso

Noutras circunstâncias, a queda do metical poderia proporcionar o quadro ideal para fomentar o consumo de produtos domésticos, que se tornaram necessariamente mais baratos e competitivos em relação às importações. Isto poderia, por exemplo, dar novo alento à agricultura. Mas, diz Charlotte King, em Moçambique não existem as condições que permitam que se tire algum benefício da situação: “Para que isso funcionasse, seria necessária uma estratégia de médio ou longo prazo, que o Governo ainda não elaborou. Moçambique não tem hoje a capacidade de produzir alimentos em quantidades suficientes para substituir as importações”.

A crise económica afeta mais os que menos têm

O Banco Central de Moçambique tem dificuldades em travar a queda da moeda, uma vez que as suas reservas de divisas caíram em 40% nos últimos doze meses.

Por motivos que se prendem, entre outros, com o défice da balança comercial e a queda da receita das exportações, o banco já não tem o dinheiro de que precisa para defender o metical, como costumava fazer no passado, explica Charlotte King.

E tem que assistir de braços cruzados ao crescimento da dívida pública paga em dólares cada vez mais caros.


Urge investigar a dívida oculta

As perspetivas são sombrias para o país, diz a analista do EIU: “As nossas estimativas apontam para uma subida em flecha da dívida externa moçambicana nos próximos meses. E não é porque estejam a emitir nova dívida, mas apenas porque a dívida vai encarecer mais face a um metical muito fraco. Trata-se de um ciclo vicioso. E não estamos a ver qualquer estratégia desenvolvida pelo Governo para quebrar este ciclo vicioso”.

O primeiro passo para esse fim seria restabelecer as relações de confiança com os doadores, o que seria um sinal positivo também para os mercados e investidores. Mas, diz a analista, a relutância de Maputo em investigar a dívida pública oculta impede que volta a entrar no país a assistência financeira necessária para que o metical recupere.

Fonte: DW

Author: Redacção

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