Artista cabo-verdiano Djam Neguin lança “Badio Branku” – o mesmo acredita na música como instrumento

Música como um instrumento de educação antirracista

 

 Lançamento Internacional

O multifacetado artista cabo-verdiano Djam Neguin lança esta sexta-feira dia 3 o seu mais recente trabalho audiovisual – Badio Branku.

Trata-se do segundo single do seu EP (previsto para o segundo semestre de 2022) que pode ser visto e ouvido em todas as plataformas de distribuição digital a partir desta data.

Neste single, o artista nos convida a refletir sobre a problemática do colorismo (uma forma disfarçada de preconceito ou discriminação, em que pessoas que geralmente são membros do mesmo grupo etno-racial são tratadas de forma diferente com base em implicações sociais que vêm com os significados culturais ligados à cor da pele)

 O single conta com lançamentos também em vários órgãos de comunicação da diáspora, da lusofonia e demais plataformas media no mundo inteiro, que  sublinham  como uma “incrível e importantíssima produção artística na agenda antirracista”

BADIO BRANKU CONVERSA-SONS

Para acentuar a efeméride, no dia 4 de Junho às 17h na comunidade africana da cova da Moura , em Amadora Portugal, o artista realiza um think thank antirracista, que reúne, artistas, ativistas, associações africanas e a própria comunidade, para debaterem as questões provocadas por este single.

“Este evento de lançamento só fazia sentido realizado no seio da comunidade. Precisamos discutir isto no mundo real, no mundo do dia a dia. O racismo e o colorismo se estabelecem como problemáticas da geopolíticas e das arquiteturas de disseminação de conhecimento. As periferias possuem as suas epistemologias e as seus códigos de comunicação. É importante que estas conversas possam ser realizadas fora das convencionalidades e formalidades”

Este evento é realizado em parceria com a Bozofu Dentu Zona uma pequena loja cultural e livraria onde estão a venda produtos da marca sustentável, produtos como bijutaria feita por artistas da comunidade negra e literatura antirracista, anticolonial e feminista, e literatura infantil. Este empreendimento tem trabalhado no empoderamento da comunidade negra. O seu espaço fica localizado na Rua 8 de Dezembro 13, 2610-203 Amadora.

SOBRE O SINGLE

 

Ficha Técnica

Beat – Firmy (Dunno)

Voz e Letra – Djam Neguin

Captação, Mix & Master – LennoBeats

Distribuição -Believe Digital

Ano de Lançamento – 2022

 

 

“O Badio Branku é um single declaradamente político, que por sinal, é também a minha condição humana no mundo.

Ele é o segundo single do meu EP Autofagias e se constitui como o segundo marcador de uma trilogia de temporalidades.

Passo a explicar – ao ser afeto às temáticas afrofuturistas, que me conduziram à criação do movimento artístico e estético que denominei CVFuturismo(https://cvfuturismo.weebly.com/), uma das prerrogativas que me orientam é o desmembramento do conceito do tempo. Ou pelo menos, dos fluxos temporais como nos foram dados. Passado, presente e futuro sao permeáveis e intercambiáveis. Ka bu Skeci Tradison (primeiro single), revista o passado a partir do futuro. Badio Branku denuncia o presente a partir do passado.

Denunciar é um verbo acusativo. Não por acaso! Nesta canção há uma exposição de um “estado das coisas” e há uma incitação “camba pra luta”, a pele é “disputa”. A pergunta “Se o presente se parece com o passado, como será o futuro?”, no livro de 1982 de Alice Wakler, quando discutia as questoes do racismo, passados 42 anos ela não se modificou. O futuro de 1982 é hoje!

A luta e a disputa são por um mundo que efetue a reparação histórica necessária e crie as circunstâncias para que as pessoas existam fora de ideologias de dominação.

Este single é obviamente um reflexo dos tempos. Um tempo de acordamento, que para mim aconteceu muito recentemente e que não mais se inviUm tempo em que as nossas pautas enquanto artistas e criadores sao decisivas para o rumo do planeta que todos partilhamos. sustentar a coerência de produzir na materialidade aquilo que temos como principio ético e moral através daquilo que sentimos e que sabemos que não faz mais sentido deixar vingar. não faz mais sentido deixar prevalecer a história única, as supremacias. Somos a geração mais privilegiada com acesso a conhecimento e a informação. -o que vamos fazer com isso vai ser decisivo.

É um single sobre a urgência de comunicar, de se juntar a vozes que abriram caminhos para que hoje possam também ecoar.

Como artistas temos uma responsabilidade que advém de um privilégio mediático que temos. Precisamos usar as nossas mídias para formar novas subjetividades, ampliar debates e resoluções políticas.”

Sobre o Visualizer

 

Ficha Técnica

 

Concepção, Style & Direção – Djam Neguin

Hairstyle – Djahanna Hairstyle

Captação- Marcos Semedo

Assistente de Produção – Adelaide Rodrigues

Edição – Admilson Fonseca

Produção – SoulArt

 

 

«Mal comecei a matutar em como transpor a música para o audiovisual veio imediatamente a ideia de fazer um visualizer ao invés de um clip (“Um visualizer é um elemento audiovisual destinado a acompanhar uma música. Eles tendem a ser menos desenvolvidos do que os videoclipes, que geralmente têm um enredo ou elementos visuais mais complexos”). Não por estar a ser uma nova tendência de mercado, mas porque queria confiar no poder comunicativo da simplicidade.

Com efeito, quando fechei os olhos nesse exercício imaginativo, surgiu, em flash, o set de um espaço urbano, periférico, fora do centro lisboeta. Uma narrativa nos dias de hoje, portanto. Foi assim que tive para mim que nada melhor do que um graffiti para capturar a proposta desejada, já que este é um  movimento das artes plásticas, que nos remete a estas ambiências, e, claro está, pela sua natureza contracultural, de irreverência, intervenção social  de criar contranarrativas com ímpetos críticos.

Ao procurar por algo relacionado com o tema, obtive através de um amigo a indicação do “Take your mask off” – Pintura mural graffiti, realizada por Nomen (aka Nuno Reis, é Pioneiro da Arte do Graffiti em Portugal, desde 1989) durante o evento, “O Bairro e o Mundo, Sacavém, Lisboa, 2014.

Fiquei deslumbrado – estava diante do verdadeiro caso de – uma imagem vale mais do que mil palavras! Majestoso, poético, pressuroso, e geograficamente relevante – o lugar cénico perfeito!

Confiando que esta obra de arte tem essa força de pausar e demorar o olhar, convictamente decidi pelo mono-set e presença fixa em tela como elementos condutores da conceituação. A inserção de um corpo (nesse caso o meu) me fez sentido também enquanto potência imagética. Por conseguinte, consolidou-se a ideia stop-Motion – essa uma técnica usada para animar a partir do uso de um sistema que permite capturar imagens estáticas e reproduzi-las em sequência.

O demais se desenvolveu nos seguintes eixos diretivos

– Imagens em movimento – com inspiração no movimento cinemático de algumas pinturas rupestres, em gancho com as proposições do  arqueólogo e cineasta Mark Azéma, que as sugeriu como proto-cinema.

-Inspiração nas inscrições sagradas egípcias (hieróglifos)  e a forma como essas manifestações pictográficas representavam  e perfilavam as silhuetas humanas.

– A dança Tutting – um estilo de dança urbana afiliada ao Hip Hop, que consiste em fazer formas e ângulos (normalmente de 90º) com o corpo, mãos, dedos, por sua vez inspirados nos tais hieróglifos egípcios e no Faraó -Tutankhamun – serviu de base para grande parte das composições coreográficas.

De seguida, a ideia foi centrada em explorar a dialética preto-branco, no jogo de cores presente no vestuário (look urbano), que simultaneamente ganha a conotação de “cor de pele” e “pertencimento racial”, traduzindo aqui, com alguma literalidade, a condição do sujeito descrito na música.

As tranças longas (com entrelaçamentos misturados) e o recurso aos óculos, surgem ainda para criar mais uma camada – a de diluição de género. O recurso aos takes distantes, e a incógnita de identificação do rosto (na maior parte do vídeo), sao também, partes deste propósito de despersonalização esta narrativa, e coloca-la dentro deste campo maior de debate. As (des)ambivalências  queer são uma constante nas minhas produções artísticas e esta não escapou.

Não deixa de ser curioso, por fim, constatar que a sucessão de imagens cria um aceleramento do corpo. Um bio-máquina em trânsito constante, que se desloca na velocidade cibernética dos modos de vida à la ocidente contemporâneo. Imagens que se sugerem instagramáveis, em constante poses, para serem vistas em feeds infinitos e disputarem a operação do olhar.

A microinstantaneidade da captura do real para a sua arte-ficcionalização, não são enganadas pela  continuidade da devoração das dinâmicas dominação e opressão. Discutir as visibilidades etnoraciais, através de um processo contínuo de descolonização do olhar é uma demanda real. E incancelável!

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