Insurgentes ocupam Macomia e voltam a içar sua bandeira

Depois de Mocímboa da Praia e Quissanga, os terroristas de Cabo Delgado ocuparam, esta quinta-feira, a vila-sede do distrito de Macomia, um dos distritos mais afectados pelas incursões do grupo, desde que começou as suas “operações macabras” a 05 de Outubro de 2017. Segundo as fontes da “Carta”, a ocupação da vila-sede de Macomia, que se localiza a 200 Km da cidade de Pemba, começou por volta da 01:00 hora da madrugada. À sua chegada, contam as fontes, o grupo disparou para o ar, o que levou os residentes a pensar que fosse mais um disparo protagonizado pelos elementos das Forças de Defesa e Segurança (FDS), como tem sido habitual.

Entretanto, quando eram 04:00 horas, o cenário mudou. Um “batalhão”, constituído por membros daquele grupo, preencheu aquela vila-sede, bloqueando as três entradas/saídas. Uma fonte militar disse à nossa reportagem que o grupo era composto por mais de 90 membros – divididos pelos três grupos – e teve reforço dos membros provenientes de Mocímboa da Praia, onde se acredita estar instalada a principal base do grupo.

Segundo as fontes, após a ocupação, o grupo disparou em direcção à sede do governo distrital. À “Carta”, contaram que a população conseguiu refugiar-se nas matas e, pouco tempo depois, começou a troca de tiros entre o grupo e as FDS. Um transporte de passageiros, que saía de Macomia para a cidade de Pemba, terá sido emboscado, quando tentava fugir do “fogo cruzado”. Não houve registo de vítimas mortais na emboscada, apenas feridos. Aliás, as fontes afirmam que a emboscada aconteceu nas proximidades do local onde está instalada uma posição das FDS, o que dá a entender que, primeiro, os insurgentes terão ocupado o local antes das entradas da vila.

Porém, uma fonte militar garante que as FDS terão retirado parte da população, pois, havia informações concretas de que os terroristas iriam atacar a vila de Macomia. Sublinha que alguns membros do grupo terão ordenado a saída de seus parentes daquele local.

Três horas depois, ou seja, pelas 07:00 horas, garantiram as fontes, dois helicópteros começaram a circular na região, antes de começar a bombardear. No princípio da tarde, chegaram mais dois helicópteros. Porém, uma das fontes afirmou que os bombardeios incidiam sobre locais onde se encontravam vários cidadãos. No entanto, fontes militares afirmaram que grande parte dos membros do grupo se encontram infiltrados no seio da população, facto que facilita as acções do grupo nas vilas-sede. A ofensiva das FDS contou com o apoio do grupo de militares privados da África do Sul, Dyck Advisory Group (DAG).

De acordo com as fontes, a incursão dos insurgentes incidiu sobre os bairros da vila-sede de Macomia, nomeadamente, Xinavane (A e B), Central, Nbebede, Changane, Napulubo, Nanga (A e B), Ceta, Expansão, Machova, Namiguiri, Muagamula, Licangano e Bangala 1. As fontes garantem ainda que os “terroristas” escalaram as aldeias de Litamanda, Chai, V Congresso, Nova Zambézia, Nova Vida e Paz.

Ainda são escassos os dados sobre as consequências desta ocupação da vila. Sabe-se apenas que o grupo incendiou residências e o Centro de Saúde de Macomia; içou a bandeira do Estado Islâmico na Estação de Suki; efectuou orações numa mesquita local; e apoderou-se de duas viaturas, pelas quais terá carregado diversos bens saqueados nos estabelecimentos comerciais daquela vila-sede. Não há dados precisos sobre o número de vítimas mortais, tanto civis, assim como integrantes do grupo e/ou membros das FDS.

“Carta” teve a informação de que os distritos da zona norte da província ficaram às escuras na noite de ontem, porém, não conseguiu apurar se a falta da corrente eléctrica deveu-se ou não a uma possível sabotagem da Subestação de Macomia.

De acordo com as fontes, a operação de combate contou com a participação de alguns líderes locais, como forma de ajudar na identificação de alguns elementos que, nos últimos ataques, acabaram mostrando suas caras, para além de ter orientado comícios.

No entanto, o Estado Islâmico publicou, através das redes sociais, um vídeo em língua Ki-Swahili, no qual aparecem terroristas sendo transportados num veículo militar das FDS. O vídeo, com o título Imesimama, que, em português, significa “parar”, “deixar” ou “impedir”, é acompanhado de uma canção de mais de 5 minutos, em que o grupo garante: “as FDS não nos vão conseguir parar” e que “não vamos recuar em todas as frentes”, pelo que “vencemos no Iraque, Síria, Nigéria, Congo e estamos a combater na Somália e Moçambique”.

Refira-se que, na passada quarta-feira, o Ministro do Interior, Amade Miquidade, reconheceu, na Assembleia da República, que a situação de segurança, em Cabo Delgado, “continua complexa, devido à adopção de técnicas de guerrilha, flagelação e fuga por parte dos grupos terroristas e ainda pelo uso das populações civis como escudos humanos”.

Realçar que, em Miangalewa, distrito de Muidumbe, foram encontrados, nos últimos dias, 15 corpos, porém, não se conhece a sua origem.

Fonte: Carta de Moçambique (Omardine Omar e redacção )

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