Quando faltam 57 dias para a visita do Sumo Pontífice a Moçambique, um escândalo sexual abala a Igreja Católica. Um padre afecto à Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, na Paróquia Beata Clementina Anuarite, no distrito de Boane, província de Maputo, é acusado de ter engravidado uma jovem de 16 anos de idade.
Trata-se de um caso que “gelou” os fiéis e a direcção daquela Congregação e que já se encontra a ser julgado no Tribunal Eclesiástico, assim como no Tribunal Judicial daquele distrito, com o processo a ostentar o nº 03/18-P, depois de ter passado da 4ª Secção do Tribunal Judicial da Província de Maputo.
Segundo apurámos, tudo começou em Abril do ano passado, quando uma rapariga de 16 anos, de nome Amélia, apareceu grávida, depois de ter sido alegadamente vítima de abuso sexual. Questionada pela família, a visada disse que o responsável pela situação em que se encontrava era um padre, de nome Joaquim Silvestre, afecto à Congregação dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, naquele distrito da província de Maputo.
O acusado é apontado como sendo sobrinho do Arcebispo da Arquidiocese de Maputo, Dom Francisco Chimoio, que, segundo apurámos, tudo tem feito para que o caso não tenha um desfecho “justo”. Segundo fontes da “Carta”, na altura dos factos, o processo foi recebido e encaminhado para a direcção da Igreja pelo padre Willy Mpia Makila, oriundo da República Democrática de Congo (RDC) que, estranhamente, viria a ser supostamente “combatido” pela direcção da Arquidiocese, depois de, durante a instrução do processo, ter sido acusado pelo padre Joaquim Silvestre de estar envolvido num caso de adultério, tendo sido afastado do cargo.
Aliás, em relação ao caso de adultério, fontes da “Carta” contam que, para a incriminação do padre Willy Mpia Makila, os representantes do Arcebispo de Maputo, Dom Francisco Chimoio, e o padre Joaquim Silvestre, procuraram a família da rapariga, com a intenção de pagar 80 mil Mts para que esta acusasse o padre congolês de ser o responsável pela situação. Porém, a família recusou-se a fazê-lo e muito menos receber o referido valor.
Insistindo, contam as fontes, o padre Joaquim Silvestre pediu que a rapariga abortasse, o que também não aconteceu. A partir desse momento, referem os denunciantes, a casa da rapariga passou a ser frequentada por pessoas estranhas, o que levou a família a pedir ajuda ao padre Willy Mpia Makila, que levou a rapariga para protegê-la, no Lar das Irmãs, daquela Congregação até que esta desse à “luz”.
De acordo com as fontes da “Carta”, devido à situação que se vivia e inconformados com a alegada perseguição ao padre Makila Willy Mpia, um padre de nome Romano Elizardo, de origem espanhola, predispôs-se a provar a sua inocência, mas quando começou a tramitar o processo ele (Elizardo) também passou a receber visitas estranhas de pessoas que nunca haviam frequentado as imediações da Congregação. Dias depois, Romano Elizardo perdeu a vida, depois de uma indisposição repentina, após uma refeição. Aventa-se a possibilidade de ter sido envenenado.
A 21 de Maio do mesmo ano, 2018, um outro padre de nacionalidade congolesa, de nome Landry Ikweli, também pertencente àquela Congregação, na Arquidiocese da Beira, foi assassinado por indivíduos até aqui a monte. Segundo revelaram-nos, as duas mortes estão interligadas com o caso, pois, supostamente, os finados estavam a lutar para provar a inocência do padre Willy Mpia Makila que hoje “teme pela sua vida”, tendo chegado mesmo a pedir protecção policial, no Comando Distrital da PRM, em Boane, mas sem sucesso, porque, alegadamente, o oficial que o recebeu teve ordens, dos seus superiores, para não encaminhar o processo.
Devido à confusão instalada e um cenário de “medo”, incertezas e mal-estar, o caso chegou aos Tribunais e, embora lentamente, vem sendo julgado. Primeiro, o caso deu entrada na quarta secção do Tribunal Judicial da Província de Maputo, a 25 de Janeiro de 2019, tendo sido, depois, encaminhado para a terceira secção do Tribunal Distrital de Boane, onde deu entrada no passado dia 10 de Junho. Este tribunal já solicitou a realização de um exame de paternidade para confirmar se o filho é ou não do padre Joaquim Silvestre.
De acordo com as nossas fontes, Dom Francisco Chimoio quer ser o primeiro a abrir o envelope dos resultados, e só depois é que os resultados serão tornados públicos. Entretanto, o suposto desejo de Chimoio está a ser colocado em causa pelos médicos, pelo facto de violar os princípios médicos, pois, deve ser aberto no Hospital e na presença de todos os envolvidos.
Referir que a suposta “guerra” entre os padres da Congregação dos Sagrados Corações ganhou outra dimensão, quando o Joaquim Silvestre submeteu uma queixa ao Tribunal Judicial do Distrito de Boane contra o padre Willy Mpia Makila, por alegada difamação e calúnia. Na acusação, Silvestre exige uma indemnização de 20 milhões de Mts. A leitura da sentença está marcada para o dia 10 de Julho.
“Carta” tem tentado ouvir, desde a semana passada, a Arquidiocese de Maputo, tendo até se dirigido às instalações, mas sem sucesso. Ligamos e mandamos mensagens para o Arcebispo Francisco Chimoio, para o Bispo Auxiliar Dom António Juliasse e outros representantes, mas simplesmente fomos “ignorados”. Sublinhar que a suposta filha do padre Joaquim Silvestre nasceu em Novembro do ano passado.(Omardine Omar)
Fonte: Carta