Aconteceu. Donald John Trump é o presidente eleito dos Estados Unidos da América

Aconteceu. Donald John Trump é o presidente eleito dos Estados Unidos da América. E ninguém viu isto chegar assim.

O bilionário, que conduziu uma campanha populista e contra o sistema, surpreendeu os EUA e o Mundo ao conquistar mais do que os 270 votos do colégio eleitoral necessários para poder entrar na Casa Branca pela porta grande.

Foi um vendaval republicano que varreu o mapa eleitoral norte-americano e que ajudou Donald Trump a vencer Estados essenciais como a Florida, o Ohio e a Pensilvânia, assim como os Estados do sul dos EUA, tradicionalmente republicanos. Para Hillary Clinton ficaram os Estados das costas Oeste e Este, que no entanto não foram suficientes para sequer se aproximar do republicano.

No final de uma noite muito longa, ao longo da qual foi forjando uma vitória inesperada, Trump assegurou pelo menos 288 votos do colégio eleitoral, bem mais do que os 215 conquistados por Hillary Clinton.
Larry Sabato, cientista político da Universidade da Virginia, dizia, ainda antes de se conhecerem resultados firmes, que, fossem quais fossem, eram já “um desastre da ordem da derrota” de Truman por Dewey em 1948, com a diferença de que agora há sondagens. Centenas delas. “É óbvia a afluência da ruralidade branca. Mas por que é que as análises às intenções de voto não viram isto? (as sondagens que davam avanço à democrata Hillary Clinton) estavam erradas em bastantes Estados. E se as sondagens à boca da urna que vi eram reais, também estavam erradas. Chamar a isto um novo Brexit nem sequer consegue explicar isto. O nosso eleitorado inclui 30% de minorias, enquanto no dia do Brexit o britânico incluía apenas 6%.”


Fossem quais fossem, dizia Sabato. Porque a vitória quase certa de Clinton, com probabilidade de vencer acima de 80% em todos os calculadores, passou, três horas após o fecho das primeiras mesas de voto, para menos de 40% e por aí adiante até aos 5%. Num ápice. E No Congresso, a Câmara dos Representantes fugiu aos democratas em menos de duas horas e o Senado apenas demorou pouco mais de três.

Tal como Sabato, os mercados não esperaram, com quedas quer nos Estados Unidos, quer no resto mundo, do Dow Jones ao Nikkei japonês. “Os movimentos dos mercados sugerem que o Brexit está a acontecer de novo”, escrevia no Twitter Nigel Farage, líder do Partido para a Independência do Reino Unido que liderou a campanha para a saída da União Europeia. Horas antes, Farage dizia que a campanha do republicano Donald Trump representava a mudança que representou a campanha para a saída que redundou no voto pelo Brexit no referendo de 23 de junho no Reino Unido.

Minutos depois, a NBC anunciava a projetada vitória republicana no Ohio, o primeiro dos “swing states”, Estados que não têm uma tradição certa. Ora, o Ohio é reconhecidamente um “barómetro” de resultados onde os candidatos apostaram as melhores armas. Foi a Cleveland que Clinton levou as estrelas pop que encerraram a sua campanha. Debalde. Virou republicano. E ainda que depois vencesse na Virginia e no Colorado (o estado que ditou a declaração de vitória de Obama), perdia margem nos estados fulcrais da batalha. Já Trump, protecionista assumido (rejeitou desde cedo a negociação de tratados internacionais de comércio, que considera nocivos para a mão de obra norte-americana), conseguia arrebatar a cintura industrial.

Enquanto isso, a fundamental Florida marcava o passo, suspendendo soluções. Com 29 votos para o Colégio Eleitoral, é dos territórios que decidem eleições. E mais ainda esta, em que Clinton apostava na revolta anti-Trump pela investida do magnata contra a imigração hispânica. A Florida tem uma população hispânica substancial.

Esta noite a Florida viveu uma dor de cabeça como já não vivia há 12 anos, quando decidiu a presidência de George W. Bush contra Al Gore. Até que virou para os republicanos, mal Clinton ousava respirar de novo com o ar da Califórnia e do Hawai. E logo a Carolina do Norte também assinava Trump. E, longe pela noite, a Pennsylvania, azul desde a infância de qualquer adulto, perdia-se.
O mapa enrubescido. E o mundo e os mercados
O mapa enrubesceu definitivamente e o site da imigração canadiano crashou. O excessivo e impulsivo magnata nova-iorquino de 70 anos e sem experiência política, que fez fortuna no setor imobiliário, é coroado rei. O mais velho a chegar à Casa Branca. Contra todas as expectativas. O homem que participou no “Sozinho em casa”, que organizou os concurso de Miss Universo, que se gabou de agarrar as mulheres de forma pouco ortodoxa, que prometeu anular o Obamacare que o ainda presidente criou para dar acesso à saúde a camadas mais desfavorecidas, que não esconde admiração pelo líder russo, que quer suavizar os impostos aos patrões e construir um muro na fronteira com o México de onde só vêm narcotraficantes e criminosos e violadores (Trump dixit) é o novo presidente dos Estados Unidos da América e os apoiantes que se juntaram à sede de campanha, em Nova Iorque foram “embebedar-se”.


aul Krugman, Nobel da Economia, resumiu ao “The New York Time” o engano em que uma nação – o mundo – viveu nos últimos meses. “Afinal, há uma enorme quantidade de pessoas, broncos, a viver principalmente nas zonas rurais, que não partilha a nossa ideia da América. Para eles tudo é sangue e território, tudo é patriarcado tradicional e hierarquia racial. E há muitas outras pessoas que podem não partilhar estes valores anti-democráticos, mas que ainda assim queriam votar em quem quer que usasse o rótulo republicano. Será a América um estado falhado, uma sociedade falhada?”
Ou então, como rejubilaria John McCain, ex-oponente de Trump nas primárias republicanas, que manteve o lugar de senador no Arizona, um estado vermelho que todos julgavam perdido para os azuis: “Uma mensagem sobressaiu clara: os americanos querem progresso, agora”.



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