Jovem que esfaqueou brutalmente colega pede desculpas e diz estar arrependido

Chama-se James, tem 19 anos e encontra-se detido na 2ª esquadra da PRM em Maputo. Na sexta-feira, esfaqueou brutalmente um colega de escola e diz ter agido em legítima defesa
O que exactamente aconteceu naquela sexta-feira?
Na verdade, a discussão começou um dia antes. O jovem com quem lutei ameaçou bater-me. Eu não gostei da provocação e começámos a lutar, mas alguns colegas separaram-nos. No dia seguinte, eu já sabia o que ia acontecer, por isso, levei o canivete à escola. Assim que cheguei, o Santana ameaçou-me e espancou-me com um objecto na cabeça. Vi o meu sangue no chão e como sabia que tinha canivete no bolso, tirei-o e comecei a espetá-lo. Foi isso que aconteceu, conforme viram no vídeo.
Onde foi que teve acesso ao canivete que levou à escola?
Eu já tinha o canivete. Não vou relevar onde tive, porque acho que não importa. A verdade é que o levei à escola com o intuito de me defender. Se não tivesse o canivete, acha que não poderia ter morrido? Acha que não me teria acontecido algo pior? Provavelmente eu tivesse morrido e o Santana estivesse aqui onde estou.
Acha que aquele foi o modo certo de se defender?
Não. Tenho consciência de que agi de forma muito violenta e peço desculpas a todos os que tiverem assistido ao vídeo.
Por que pede desculpas?
Porque todo o mundo me condena, chamam-me assassino, e porque foi algo feio. Não devia ter agido daquela maneira.
Se pudesse voltar atrás naquela sexta-feira, teria feito algo diferente?
Sim, não teria ido à escola.
Alguns colegas dizem que é usuário de droga. É verdade?
Não posso dizer que nunca fumei droga. Já o fiz, mas há mais de cinco, seis meses, que não me drogo. Portanto, o meu comportamento não tem nada a ver com alguma alteração física ou psicológica. Eu estava lúcido e agi em legítima defesa.
Alunos e professores da Josina Machel querem mais segurança
“A escola deve começar a revistar as pastas dos alunos, porque não se explica que entrem aqui com objectos que são perigosos e proibidos”, afirma Luís Benjamim, de 16 anos, que frequenta a 11ª classe na Escola Secundária Josina Machel, em Maputo.
O adolescente não presenciou a confusão entre os dois alunos da 10ª classe, que terminou em esfaqueamento, mas teve acesso ao vídeo gravado por alguns presentes. Luís diz ter ficado muito assustado com o nível de violência, no entanto, relata que são frequentes casos de confronto entre alunos na escola.
O adolescente acrescenta que já foram encontrados vários alunos a consumir álcool no recinto escolar e até a vender drogas, por isso, apela a que haja reforço da segurança.
Julieta Adriano, aluna da 12ª classe, faz o mesmo apelo: “A escola deve reforçar a segurança”.
Os alunos não são os únicos que ficaram assustados com os últimos incidentes. José Cumbane é professor na Josina Machel há oito anos. Tem 34 anos e diz ter ficado muito assustado com a violência registada na última sexta-feira. “Sinto-me inseguro”, disse. Segundo o professor, a sua família e pessoas próximas não queriam acreditar que o vídeo retratava um acontecimento registado na escola onde trabalha.
Cumbane diz sentir muito medo por já ter acompanhado casos, até de professores, que foram agredidos dentro do recinto escolar e alerta que, apesar dos alunos se envolverem em situações como a que circulou nas redes sociais, o principal problema vem de fora. O professor conta que, no final do dia, há muitos delinquentes que entram na escola sem nenhuma dificuldade para assaltar e ameaçar professores e alunos.
Santana Abdul, o aluno que foi golpeado brutalmente, continua a recuperar e está fora de perigo.
Ferrão diz que alunos problemáticos devem ser recuperados
Depois do director da Escola Secundária Josina Machel, Armindo Mutimba, ter dito, domingo passado, que o aluno que esfaqueou o seu colega seria expulso da instituição, o ministro da Educação e Desenvolvimento Humano reagiu, ontem, ao caso e mostrou reservas em relação à possível expulsão. Jorge Ferrão diz que o sector que dirige deve recuperar os desviados e adverte que aumentar o número de “marginais” não é a solução.
“Apesar do regulamento condicionar a continuidade de estudo para alunos que não se comportam bem, temos a responsabilidade de recuperar as nossas crianças. Só existe escola porque nós queremos moldar comportamentos”, disse Jorge Ferrão, alertando que “temos de fazer com que mesmo aquele que é marginal encontre formas de ter um comportamento digno e de saber estar como cidadão”.

Ainda ontem, o Ministério da Educação, direcção da Escola Secundária Josina Machel, encarregados de educação, Polícia e outros intervenientes reuniram-se para reflectir sobre o comportamento dos alunos e prometeram divulgar o seu posicionamento na próxima sexta-feira.

Publicado em: O País

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